Folha de rosto - Arca - Fiocruz

excepcionalidade desta situação suscita ainda mais expectativas em relação à
prática de ações solidárias. Logo, torna-se possível dimensionar a indignação e
a surpresa presente numa fala como a de Rosa:
“Eu não entendo, eu já estou aqui há vinte e seis
dias que estou aqui, elas [tias maternas] nunca
vieram assim, não me ligam. Eu vou em casa, mas
não vejo elas... não tenho contato assim com
minhas tias, antes eu tinha”.
O depoimento desta mãe expressa sua decepção diante do que considera
como uma ‘traição’ e evidencia a relevância que a família consangüínea
assume para esta entrevistada. Residente no Rio de Janeiro há menos de um
ano, oriunda do Maranhão aonde permaneceu a maior parte dos seus
familiares, Rosa não tem condições de aceitar a omissão daqueles que
comporiam uma rede de apoio crucial diante de seu reduzido escopo de
matrizes de suporte. Diversos estudos como o já mencionado trabalho de
Bourdieu (1979) ou o de Durham (1978), dentre outros, indicam que os
migrantes, uma vez distantes do seu habitat original, tendem a reforçar os
laços entre si de modo a buscar preservar traços de sua identidade.
Conseqüentemente, pessoas com histórias e situações de vida similares à
desta mãe entrevistada tendem a participar de redes sociais mais resistentes
ao ingresso de novos integrantes. A rede de Rosa, por exemplo, incorporou
somente o pai de seu filho e uma vizinha.
As palavras de Rosa - emblemáticas de depoimentos similares de outros
pais entrevistados - também podem ser compreendidas à luz da hipótese
segundo a qual a flexibilidade ou mesmo a relativa transitoriedade das alianças
conjugais, prevalente desde o período colonial entre as classes menos
abastadas em nosso país (Fonseca, 1997), favoreceu o estreitamento de
vínculos entre parentes consangüíneos que habitam próximos uns dos outros.
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