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Folha de rosto - Arca - Fiocruz

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“A pessoa em que eu mais confiava, que eu mais<br />

gostava, que eu tinha mais afinida<strong>de</strong> era minha<br />

cunhada, minha cunhada foi e virou as costas prá<br />

mim, falou assim: ‘Ah eu não vou porque amanhã<br />

eu tenho <strong>de</strong> acordar cedo pra ir trabalhar’. Estava<br />

mentindo. Ela não quis ir não sei porque”.<br />

Na fala <strong>de</strong> Joana também está presente a questão da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

uma explicação para evitar a quebra da “confiança” (Lomnitz, 1981: 28) entre<br />

os parceiros <strong>de</strong> re<strong>de</strong>. A pressuposta lealda<strong>de</strong> da parte <strong>de</strong> seus companheiros<br />

<strong>de</strong> re<strong>de</strong> não comporta mentiras. Neste sentido, Fernanda <strong>de</strong>nuncia o<br />

comportamento ambíguo do pai <strong>de</strong> seu filho: “ele falou que ia ajudar, que ia dar<br />

as coisas a ele, <strong>de</strong>pois ele fala que não vai ajudar, ele fala duas coisas, eu fico<br />

meio assim”, sendo que um eventual rompimento <strong>de</strong> promessa<br />

necessariamente requer uma explicação plausível como diz Ana sobre a<br />

atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua patroa: “Ela não veio porque não estava po<strong>de</strong>ndo mesmo, eu<br />

entendi... porque vida <strong>de</strong> médica é corrida assim”. O limiar <strong>de</strong> tolerância para<br />

com o que po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como uma falha imperdoável comporta uma<br />

variação individual entre os pais entrevistados.<br />

Não obstante, há <strong>de</strong>terminadas atitu<strong>de</strong>s por parte <strong>de</strong> quem <strong>de</strong>veria lhes<br />

ajudar que são percebidas como irremediáveis pelos pais dos bebês, os quais<br />

sequer computam como positivas certas iniciativas a posteriori empreendidas<br />

por quem não lhes apoiou num momento <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>. Isto porque os<br />

entrevistados compartilham a crença <strong>de</strong> que não se po<strong>de</strong> “<strong>de</strong>ixar na mão”<br />

quem está precisando <strong>de</strong> ajuda, como ilustra mais um trecho da entrevista <strong>de</strong><br />

Rosa no qual ela con<strong>de</strong>na a postura <strong>de</strong> sua ex-patroa que a <strong>de</strong>spediu quando<br />

tomou conhecimento <strong>de</strong> sua gravi<strong>de</strong>z: “ela sabia que eu precisava muito <strong>de</strong>sse<br />

trabalho porque eu não tenho ninguém por mim”. Daí não adianta que esta<br />

mesma ex-patroa compareça ao hospital ou lhe dê dinheiro para comprar<br />

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