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Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

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Tem um garoto na sala que é atentado, ele não pára quieto. Desde o<br />

começo do ano, ele fica chamando o garoto de “rosquinha” e o garoto só<br />

ficava quieto. Aí, terça-feira passada, o garoto falou assim: “Me chama de<br />

novo disso que você fica chamando!”. Aí, o garoto chamou, e ele deu dois<br />

socos na cara dele. Depois disso, ele ficou quieto. (Entrevista com aluna,<br />

Rio de Janeiro)<br />

O menino da minha sala, o apelido dele é “Dunga”. E ele não gosta desse<br />

apelido. Aí, o moleque chamou ele de “Dunga” e ele falou: “Não me<br />

chama de ‘Dunga’ não, que eu não gosto”. Aí, empurrou ele assim e<br />

começou a porrada. (Entrevista com aluno, Distrito Federal)<br />

Estabelece-se um círculo vicioso no qual se responde uma agressão verbal<br />

com uma agressão física reiterando um padrão de ação e reação baseado na<br />

agressividade como instrumento de resolução de conflitos: Assim, se a gente<br />

está discutindo, aí eles ficam “você é isso e aquilo”. Aí, a gente vai lá e revida,<br />

porque a gente não vai ficar quieto. Eles xingam, e a gente xinga também.<br />

Observa-se, no depoimento a seguir, que o revide pode funcionar como<br />

uma provocação, uma agressão, alimentando a espiral de agressividade nas<br />

interações sociais: Oh! Eu estou fazendo a minha lição e um menino começa a<br />

mexer comigo. Aí, eu começo a mexer com ele também. Eu mexo com os outros<br />

provocando, chamando de tucano. Ele tem esse apelido porque ele tinha um<br />

narigão.<br />

Outra maneira de demonstrar força ao reagir, é recorrer à solidariedade<br />

dos colegas, que ajudam na estratégia de defesa. Por vezes, os amigos,<br />

assumem a frente da vingança, mesmo quando a própria vítima não deseja<br />

prosseguir na troca de agressões:<br />

Elas [outras alunas] ficavam me xingando de tudo quanto é nome. Outras<br />

meninas, para me ajudar, ficavam xingando elas de galinha. Realmente<br />

são, mas a gente não tem que se importar com a vida dos outros. Os meninos<br />

mangaram de mim porque elas me xingaram. Ficaram falando que iam<br />

me bater. Eu ficava calada, ignorando. Passou umas duas semanas, elas<br />

ficaram falando sobre isso, foi indo e passou, quietaram com isso. Se eu<br />

tivesse continuado dando bola, xingando, brigando com elas, ia estar até<br />

hoje. (Entrevista com aluna, Distrito Federal)<br />

Chama a atenção, porém, que nem sempre as agressões despertam um<br />

desejo de reação nas vítimas. Há casos como o do aluno que, apesar de reagir,<br />

minimiza as agressões verbais, classificando-as como apenas sacanagem,<br />

diminuindo o sentido de tal incivilidade no cotidiano escolar:<br />

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