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Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

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A Guarda Municipal ela (...) tem assim... a função deles é guardar o<br />

patrimônio da escola. Então, seria mais a questão física, pra não acontecerem<br />

depredações. Nós já tivemos muitos problemas com guar<strong>das</strong> esse<br />

ano, inclusive agora temos outros dois guar<strong>das</strong>. São dois. Um ficaria na<br />

parte de cima da escola e o outro ficaria do outro lado. É porque as<br />

atribuições deles, nós achávamos que eles teriam que não zelar somente<br />

pelo patrimônio, mas também cuidar do portão, a entrada e saída. E a<br />

briga é que eles... Não é função deles, eles dizem que não é pra isso (...).<br />

(Entrevista com professora, Porto Alegre)<br />

Percebe-se, no discurso da docente, que houve um entendimento de que<br />

os guar<strong>das</strong> deveriam-se responsabilizar pelo controle da circulação de pessoas<br />

na escola. Há policiais que fazem relatos parecidos e demonstram insatisfação<br />

em relação a esse tipo de demanda:<br />

Eu tenho a regra da minha guarda, que é minha atividade funcional, que<br />

eu sei to<strong>das</strong>. Mas o importante (...) nós somos quase um corpo estranho<br />

dentro da escola, é esse o problema. Porque elas [as pessoas] têm uma<br />

maneira de resolver os problemas, e vai de encontro a nossa atividade. Elas<br />

querem interferir no nosso trabalho. (...) Cuidar do portão não é nossa<br />

tarefa. Quer dizer, a gente não é porteiro, a gente cuida do patrimônio<br />

(...). Quer usar o guarda como funcionário que não é o funcionário da<br />

escola. No começo a escola teve muitos problemas com colegas meus que<br />

tiveram que ser transferidos por problemas deste tipo, que criaram atrito<br />

com a direção. A direção parece que não admite, ela é um corpo estranho.<br />

(Entrevista com guarda municipal, Porto Alegre)<br />

O relato anterior aponta para o fato de que nem sempre as relações <strong>entre</strong><br />

policiais e adultos são harmoniosas, pelo contrário, podem ser permea<strong>das</strong> por<br />

conflitos. Um outro aspecto que também chama a atenção é o fato de que o<br />

policial se considera um “corpo estranho” na escola, remetendo a uma<br />

reflexão sobre a adequação de sua presença nos estabelecimentos de ensino,<br />

considerando que funcionam em uma lógica distinta da que rege a escola.<br />

Observa-se que o resultado da presença da polícia na escola pode gerar<br />

uma ambigüidade em relação a quem tem o poder e o controle, criando<br />

uma confusão sobre quem é quem na hierarquia da escola, desqualificando<br />

a autoridade de professores, diretores, vigias e demais funcionários. A<br />

administração escolar se torna mais complexa, uma vez que não fica evidente<br />

quem detém o controle sobre a escola e esse vácuo de poder pode criar<br />

a impressão de que os alunos, aparentemente, assumiram esse controle<br />

(Devine, 2002):<br />

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