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Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

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Algumas vezes que o pessoal me xingou, eu reagi. Mas eu fico só na<br />

minha. É só sacanagem mesmo. Ás vezes, eles me chamam, mas aí eu<br />

também falo. Não vou ficar calado. Mas aí ninguém briga por isso porque<br />

eles são meus conhecidos. É o grupo inteiro, mas eu também falo pra eles.<br />

Eles também têm apelido, mas a gente fica só na sacanagem. Somos todos<br />

colegas. (Entrevista com aluno, Belém)<br />

Existem também aqueles que demonstram insatisfação, incômodo em<br />

decorrência <strong>das</strong> agressões verbais e dos apelidos, mas não necessariamente<br />

reagem:<br />

As pessoas não são muito legais não. Porque ficam implicando, ficam<br />

colocando apelido nos outros. Ficam xingando os outros. Como é que eu<br />

vou dizer, ficam chamando meu colega de “bundinha de nenê”, essas<br />

coisas... É porque ele tem cara de criança. (Entrevista com aluno, Rio de<br />

Janeiro)<br />

Além disso, nem sempre os apelidos são levados a sério e podem ter, para<br />

muitos alunos, a conotação de brincadeira: As pessoas ficam xingando as outras.<br />

Está vendo que a pessoa não fez nada. E tem apelido você vê que tem vez que é<br />

brincadeira.<br />

A não-reação pode, ainda, se basear em um sentimento de desprezo pelo<br />

agressor, que acaba sendo classificado como mau aluno, pessoa desprezível e<br />

“sem futuro”, à qual não vale a pena responder de forma alguma:<br />

Xingar diretamente aqueles palavrões absurdos, não. São apelidos que eu<br />

não gosto comigo. Mas quer saber? A pessoa falou, eu olho pra cara dela.<br />

Às vezes, nem olho. Pra mim, essas pessoas são inexistentes. São aqueles<br />

alunos que dá pra você ver na cara deles que são... Se eles tiverem futuro<br />

como gari – nada contra, porque eu acho que é uma profissão muito<br />

digna –, eles estão tendo muito, porque eles não merecem nem catar<br />

latinhas. Um dos alunos que mais nos põe apelido, nos fala coisas indesejáveis,<br />

é um repetente. O outro é um que não faz nada dentro de sala, que<br />

está prestes a ser o próximo repetente. (Entrevista com aluna, Distrito<br />

Federal)<br />

Ainda, no que diz respeito à maneira como os alunos reagem aos apelidos<br />

e agressões verbais, registra-se que alguns não se opõem nem verbalmente,<br />

nem fisicamente por medo ou para evitar maiores provocações. Percebe-se,<br />

que nesses casos, a agressão acaba tendo o efeito de intimidação: me chamaram<br />

de lerdão. Eu fico quieto senão eles zoam mais. Eu fico quieto para eles pensarem<br />

que eu não dou confiança. Se eu revidar, não sei, aí acho que eles fazem mais<br />

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