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Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

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e ela estava lendo uma revista. Gritou e fez assim pra outra aluna: “Bote<br />

meu nome!”. Eu disse: “Me desculpe, mas seu nome não vai ser colocado<br />

nesse trabalho porque você não está fazendo sua parte”. Ela levantou e me<br />

disse horrores. Todos os professores da escola eram bacanas. Ela disse que<br />

vinha pra escola pra poder acabar com eles realmente. E ela não tava nem<br />

aí se ela matasse um, matasse outro, porque ela ia passar só dois, três anos<br />

na cadeia, comendo e bebendo de graça. Disse ainda que é por isso que<br />

nos Estados Unidos se está matando os professores. E que ela ia fazer o<br />

mesmo, que ela ia matar, que pra ela era uma boa matar. (Grupo focal<br />

com professores, Salvador)<br />

Por vezes, o ato de intimidar um adulto está vinculado a comportamentos<br />

violentos e agressivos e que afloram especialmente em situações de enfrentamento,<br />

sendo que a vítima sequer entende o porquê da agressão: dito por um<br />

aluno de outra turma quando reclamei de um aluno que estava no corredor: “dá<br />

logo um tiro nele”; fui ameaçada, escreveram na parede a ameaça.<br />

As ameaças não necessariamente se expressam verbalmente ou por meio<br />

de outras linguagens diretas, mas se dão também por tipos de comunicação<br />

áspera, surtindo, contudo, o efeito de intimidação na pessoa-alvo, o professor,<br />

e inclusive em uma coletividade mais ampla, como a de alunos, conforme<br />

ilustra o caso da estudante que grita com a professora, não a ameaça diretamente,<br />

mas a turma percebe o ato dessa maneira:<br />

Na primeira semana de aula, eu fiz a chamada pelo nome pra conhecer os<br />

meus alunos. Chegou o nome dela pro fim e chamei “Viviane”. Essa<br />

pessoa faltou me bater. Ela é da sua altura. É grande. Ela estava lá atrás,<br />

veio e bateu na minha mesa. Gritou, gritou mesmo, me enfrentou e disse:<br />

“Me admira muito a senhora, admiro muito”. Mas gritando assim e eu<br />

sem saber o que eu fiz. Aí, os alunos disseram: “Professora, ela vai te<br />

esperar lá fora”. Todo mundo tem medo dela. Ela é líder e é traquina.<br />

Quando chamo ela de Viviane, ela se transforma. É pior do que se você<br />

desse nela uma facada. Ela odeia o nome Viviane. Até hoje eu não sei o<br />

porquê. O pai dela disse que era um capricho pra chamar atenção. Ela me<br />

disse que o nome dela era Akira [personagem “violento” de desenho animado<br />

japonês]. (Grupo focal com professores, Belém)<br />

A sensação de ameaça pode ser reforçada por meio de elementos exógenos à<br />

escola, como o vínculo – real ou imaginário – com o mundo da criminalidade.<br />

Nesse sentido, há o relato da professora que conta que foi intimidada verbalmente<br />

por estar vestida de azul, cor da facção rival ao Comando Vermelho, assim como<br />

referências a alunos que explicitam um suposto vínculo com o tráfico:<br />

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