09.05.2013 Views

Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

entrada de pessoas estranhas, geralmente liga<strong>das</strong> ao tráfico, descritas como<br />

bandidinhos, olheiros ou outros maconheiros de outras <strong>escolas</strong>.<br />

Os invasores costumam agir com violência, circulando por espaços não<br />

permitidos: sei que os moleques entraram com pedaços de pau batendo nos moleques<br />

lá. Entrou assim e foi metendo pau nos meninos, pancada nos alunos –, violando<br />

regras: eles vêm com madeira, com ferro, e vêm para bater, vêm às vezes para<br />

espancar, como já houve casos aqui. Dia desses, um garoto foi baleado. Também<br />

desconsideram os limites físicos e simbólicos que demarcam a instituição<br />

escolar e ignoram o professor:<br />

Eu estava dando aula. Aí entraram aquelas gangues batendo no aluno.<br />

Bateram mesmo no aluno, dentro da sala de aula. Aí, o aluno, todo quebrado.<br />

“É você que vai levar uma facada!”. Sabe qual era o problema? Na verdade,<br />

era que uma <strong>das</strong> meninas se engraçava com ele, que era de gangue. Então,<br />

ele [membro de outra gangue] não gostou e avisou o povo. Aí a gangue<br />

veio e quebrou. (Grupo focal com professores, Belém)<br />

Diante desses episódios, alguns alunos se sentem impotentes e sem possibilidade<br />

de se defenderem e de denunciarem as situações vivencia<strong>das</strong>: a gente<br />

tem de ficar calado e quieto. E nessas situações, se a gente for falar para as pessoas,<br />

muitas vão achar que a gente está aprontando, que a gente está querendo ir<br />

contra eles. O que a gente não quer, é viver no meio disso, pôxa!<br />

Tais depoimentos sobre invasão de <strong>escolas</strong> remetem à vulnerabilidade, em<br />

termos de segurança, de alguns estabelecimentos. Aparentemente, os<br />

mecanismos de controle – uniformes, carteirinhas, muros altos e grades – não<br />

impedem que a escola seja alvo de invasões de membros de gangues,<br />

tornando-se, assim, cenário de acertos de contas. Os jovens têm estratégias<br />

para burlar a escola:<br />

Há poucos dias, teve um garoto que entrou aqui para bater no outro. Sete<br />

e meia da manhã. O outro já tinha dado soco no outro porque ele tem uma<br />

gangue lá fora. Então, quem bate aqui num aluno menor, que não tem<br />

força para revidar, ele avisa pro cara da gangue lá fora. Ele deu a camisa da<br />

escola pro aluno que não é da escola, ele pulou o muro, entrou na escola e<br />

deu o soco na cara do outro. (Grupo focal com professores, Belém)<br />

O portão <strong>das</strong> <strong>escolas</strong>, especialmente na hora da saída, consiste no espaço<br />

mais visado pelas gangues que vêm para “pegar” os meninos, as pessoas daqui.<br />

Isso está associado à dinâmica <strong>das</strong> brigas nas <strong>escolas</strong>, ou seja, ao fato de que as<br />

brigas costumam ocorrer na saída do colégio: Eles vêm pra tirar satisfação. Aí, já<br />

matam um, já brigam lá na frente. Aí, um corre pra um lado o outro corre pro outro.<br />

292

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!