09.05.2013 Views

Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

“Como é que o professor tal põe ordem?”. Aí, eu penso o que o professor<br />

tal tem que eu não tenho? Mas deixa estar. (Grupo focal com professores,<br />

Porto Alegre)<br />

Alguns professores aproveitam a situação vivida de discriminação e xingamento<br />

para discutir o tema com seus alunos, exercendo seu papel de educar<br />

para a diversidade e reconhecimento do outro:<br />

Comigo é assim... Já aconteceram aquelas coisas, na hora da nota, que a<br />

nota é baixa, “essa nêga nojenta”. E isso não é em alto e bom tom, isso<br />

é baixinho. Mas isso a gente finge que não escutou. Ainda chamo o<br />

coleginha, o aluno bem pertinho de mim e falo pra ele que sou negra sim,<br />

e posso ser até nojenta. Porque nojento, ser chato, não está associado à<br />

questão racial. Aí eu posso ser implicante, aí são outras características, um<br />

outro comportamento, que a gente pode mudar. Agora, não pode associar<br />

o fato de eu ser negra a ser nojenta. Mas normalmente a coisa é muito<br />

sutil, porque a sociedade como um todo, ela está dessa forma. E o que eu<br />

percebo aqui, eu vejo o preconceito do meu aluno, quando eu falo pra eles<br />

que eu sou negra. E falam “ah, professora, a senhora não é negra não, a<br />

senhora é morena”.Então alguns alunos acham que o fato de me chamarem<br />

de negra estão me ofendendo. (...) (Entrevista com professora, Rio de<br />

Janeiro)<br />

Ainda que mais freqüente na relação aluno e professor, o tratamento<br />

diferenciado, por estigmas pela raça, pode também se dar <strong>entre</strong> adultos<br />

membros da escola, como no caso seguinte, em que o professor jovem e<br />

negro não foi reconhecido como tal por um funcionário. O caso narrado, a<br />

seguir, também ilustra a complexidade do registro de tratamentos discriminatórios<br />

por conta da raça/cor e como alguns preconceitos, como os baseados<br />

na idade são mais facilmente aceitos que o de cunho racial:<br />

Aqui nessa escola mesmo, no turno da noite, um coordenador chamou<br />

um professor, disse, “meu filho, aonde você pensa que vai? Está entrando<br />

aí por quê?” Porque ele é negro, com uma bolsa atravessada assim no<br />

corpo, calça jeans, aí quando ele falou “não, eu sou professor.” “Ah, tá.<br />

Sabe, eu nunca trabalhei na escola.” E depois que pediu muitas desculpas,<br />

e aquela coisa, “Ah, é porque você é muito jovem, eu confundi, desculpa,<br />

pensei que fosse aluno entrando, mexendo nos diários e não sei o quê” e<br />

ficou aquela coisa assim, bem sem graça. (Entrevista com professora,<br />

Rio de Janeiro)<br />

Além dos docentes, os funcionários também são vítimas da discriminação<br />

racial. Quando os alunos não concordam com as regras da escola, eles se<br />

225

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!