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Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

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2. Há de distinguir agressividade, conflito, agressão com violência instrumental<br />

e agressão com uma forma de violência que chamarei aqui de<br />

“sintomática”. Como já foi mencionado, a agressividade é uma componente<br />

da existência humana, por decorrer da frustração, impossível de ser evitada.<br />

Ela induz conflitos. Agressividade e conflitos podem levar a coisas ruins<br />

(bofeta<strong>das</strong>, guerras…), mas têm também uma dimensão positiva, pois é no<br />

conflito e no debate que mudam o mundo, os homens e as idéias (ver Hegel,<br />

Marx, Nietzsche, Freud). Enquanto a agressividade é uma disposição e o<br />

conflito uma situação, a agressão é um ato. Etimologicamente, é o ato pelo<br />

qual se invade o espaço privativo (físico ou psíquico) do outro, para agredilo.<br />

Sempre a agressão pressiona quem é agredido, por atos físicos ou ameaças.<br />

Mas pode ficar racional; neste caso usa-se a pressão até o ponto em que o<br />

agredido deixa de resistir e <strong>entre</strong>ga o que o agressor quer obter. Todavia,<br />

ocorrem, cada vez mais, casos em que a pressão exercida sobre o agredido<br />

ultrapassa o que é racionalmente requerido, até matá-lo, embora não resista,<br />

como se o uso da violência fosse fonte de prazer e se tornasse mais importante<br />

do que o objeto a ser roubado ou o acordo a ser extorquido. Neste caso, o<br />

prazer de machucar, humilhar, destruir leva a considerar essa violência como<br />

um sintoma, e não apenas um instrumento. Sintoma psicológico; sabe-se<br />

que a explosão de violência libera morfinas endógenas, as quais têm efeitos<br />

iguais aos de uma droga. Sintoma social; ódio porque a pessoa nada tem e<br />

se sente abandonada e desprezada por quem tem mais do que ela. Talvez<br />

sintoma cultural, pois começa-se a falar em cultura da violência (encontramse<br />

neste livro exemplos interessantes dessa).<br />

3. Há de distinguir o desrespeito à lei (delito, crime), a transgressão à regra de<br />

uma instituição e a incivilidade (em que se pode incluir uma forma particular<br />

de incivilidade, chamada de bullying). Encontram-se vários exemplos desses fenômenos<br />

no livro. Portanto, basta aqui ressaltar que o delito e o crime (definidos<br />

pelos Códigos Civil e Penal) são assuntos de polícia e Justiça, a transgressão<br />

responsabilidade <strong>das</strong> instâncias específicas da instituição (conselho da escola,<br />

Secretaria Municipal ou Estadual de Educação…), e a incivilidade problema<br />

para os educadores. Em outras palavras, não é a escola que deve mexer no tráfico<br />

de droga, não é a polícia que deve cuidar do insulto ao professor (senão quando<br />

represente mesmo perigo para esse) e são todos os educadores, quer na escola<br />

quer fora dela, que devem encarar o desafio <strong>das</strong> incivilidades ou do bullying.<br />

4. Por fim, há de distinguir a tensão, o ato (tendo ele próprio vários graus)<br />

e a situação. O ato violento sempre ocorre em uma situação psicológica ou<br />

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