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Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

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vou apagar essa alemoa”. Então, eu era constantemente ameaçada. A diretora<br />

me pegou e disse assim: “Não te quero mais de noite. Tu estás<br />

arriscando a tua vida. Tu tens família. Preciso de ti de manhã. Tu vais vir<br />

pra turma de manhã”. (Grupo focal com professores, Porto Alegre)<br />

Registram-se casos de reação, mas tendem à repressão, ao apelo à autoridade<br />

externa à escola, à polícia. No depoimento que segue, a direção resolve<br />

um caso de ameaça, ameaçando:<br />

Só uma vez, o ano passado, tinha uma mocinha aí... Eu estava dando aula<br />

e ela chamou uma outra dentro de sala que ela queria pegar ela lá fora. Eu<br />

estava dando aula, eu disse: “Olha, minha filha, eu estou aqui. Calma”.<br />

“Não, professor. É com ela”. “Mas, sim, espera aí. Vamos embora pra diretoria.<br />

Vocês não vão resolver”. Aí, eu trouxe aqui pra orientadora conversar<br />

com ela. Ela tava lá e disse que ia pegar a outra lá fora. Aí, a<br />

orientadora disse: “Se você pegar, eu vou chamar a rádio patrulha aqui.<br />

Vão mandar eles lhe levar e mando fazer uma ocorrência”. Morreu. Ela<br />

anda aqui e eu não vi mais esse problema. (Entrevista com professor,<br />

Belém)<br />

Muitas vezes, <strong>entre</strong>tanto, as ameaças acabam sendo incontornáveis: esse<br />

ano, uma professora foi ameaçada de morte por três alunos e registrou queixa na<br />

delegacia. Ela deixou de dar aulas nessa escola.<br />

Vários professores expressam um sentimento de insegurança, medo, abandono<br />

e impotência em uma escola que parece ser de ninguém, cuja alternativa<br />

é o conformismo, a interiorização de situações negativas, com suas<br />

conseqüências para os indivíduos e a instituição:<br />

Sei de caso de violência de professor que já pediu pra sair da escola por<br />

causa de ameaça. Inclusive, tem uma sala lá em cima onde você fica de<br />

frente com a frase: “Vou matar 100% dos professores”. Está lá escrito. Há<br />

dias da gente chegar, chamar a direção, pedir um posicionamento e eles<br />

não irem atrás pra saber quem fez e quem deixou de fazer. Pode ter até um<br />

desvio de comportamento uma pessoa que faz uma coisa dessas e a gente<br />

não sabe. E simplesmente fica por isso mesmo. A gente está dando aula e,<br />

de repente, jogam uma pedra enorme dentro da sala lá de fora. Eu simplesmente<br />

não vou atrás. Mando os meninos fecharem as janelas porque,<br />

se for, não tem solução. Então, fica assim. Olha, a sensação que se tem é<br />

esta: cadê a direção da escola? Não existe. Não tem política disciplinar<br />

nessa escola. Não existe. (Entrevista com professora, Distrito Federal)<br />

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