09.05.2013 Views

Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

é?”. Aí, eu falei: “Eu não estou falando com você. Estou falando com ele”.<br />

Aí, ele disse: “Olhe, não procure muita coisa senão eu te apago. Vou te<br />

esperar aqui para te apagar”. (Entrevista com professora, Salvador)<br />

De modo geral, independentemente de quem seja o alvo da ameaça –<br />

aluno, professor ou outro adulto – a direção da escola tende a não tomar<br />

providências, a não ser que seja estimulada pela iniciativa particular daquele<br />

que se sente coagido ou daquele que visa à sua defesa. Mesmo assim, a escola<br />

nem sempre se mostra capaz de resolver o conflito da maneira mais adequada,<br />

uma vez que uma postura assumida pelas autoridades da escola parece ser a<br />

de minimizar ou desconsiderar a importância do ocorrido, alimentando,<br />

dessa maneira, a “lei do silêncio”:<br />

Já recebi ameaças do aluno, mas não chegou a se consumar. A escola simplesmente<br />

não se pronunciou. Muito pelo contrário. Até no ano passado<br />

teve um aluno que me ameaçou e que já estava ameaçando alunos também<br />

dentro da sala de aula. Aí, o marido de uma aluna ameaçada veio, se pronunciou<br />

e queria denunciar. Mas aí foi relevado, conversado e resolveram<br />

da melhor maneira possível. Eu não acho que foi a melhor maneira possível.<br />

(Entrevista com professor, Rio de Janeiro)<br />

Outros depoimentos confirmam que, geralmente, nada acontece com os<br />

que ameaçam e que muitas vezes a direção da escola assume uma postura passiva<br />

e, em alguns casos, de conivência e cumplicidade, o que estimula a prática<br />

de atos violentos. Essa é uma questão complexa, considerando a vulnerabilidade<br />

dos diretores e professores face ameaças explícitas ou implícitas, a força<br />

da violência, sua extensão social:<br />

Tem alunos que chegam a ameaçar. Ameaçam professor. Não se tem<br />

muito o que fazer porque tem que ter pessoal pra tomar providência e<br />

acaba se deixando as coisas transcorrerem. Passam a mão na cabeça do<br />

aluno, não dando uma punição severa, não impondo limite. Isso aí acaba<br />

dando caminhos pra que isso se repita com outros alunos. (Entrevista com<br />

professor, Rio de Janeiro)<br />

Muitas vezes, chegaram na secretaria e me disseram assim: “Vou te botar<br />

um três oitão na boca. Tu te aquieta!”. O quê que eu poderia fazer? Às<br />

vezes, dá medo de sair à noite. Eu nem dou bola. Na minha época, se uma<br />

coisa dessas chegasse ao conhecimento da direção, esse aluno tava expulso<br />

no mesmo dia. (Grupo focal com professores, Porto Alegre)<br />

Realmente, às vezes, fica até difícil. A gente tem até medo porque você<br />

não sabe com quem está lidando. Acontecem casos de você brigar com o<br />

166

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!