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Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

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Tem aqueles que acham que é bonito pertencer a uma facção. Então, eles<br />

falam: “Ah, o meu pai é gerente da boca de fumo. A minha mãe trabalha<br />

dolando [enrolando] lá as coisas e tal”. É até uma maneira de intimidar a<br />

gente. Quando ele vê que isso não dá certo, eles cortam, porque quem<br />

realmente pertence a esse tipo de coisa não utiliza esse tipo de agressão<br />

contra o professor. (Entrevista com professor, Rio de Janeiro)<br />

O depoimento de um aluno, reforça a tese de que o anúncio de que é, de<br />

certa forma, vinculado ao mundo da criminalidade, mais especificamente às<br />

facções criminosas, é utilizado como estratégia para intimidar o professor e<br />

ameaçá-lo de morte:<br />

Tem um professor aqui que foi ameaçado. Ele até chegou a chorar dizendo<br />

que não ia dá mais aula aqui. Falaram que ia matar o professor. Falaram<br />

que moram no [nome do bairro] só para ameaçar professor, dizendo que<br />

vai voltar matando. Já sabem quem é, mas ninguém fala nada. (Entrevista<br />

com aluno, Rio de Janeiro)<br />

Mas a possibilidade de vínculo com a criminalidade ou com as drogas<br />

pode “imobilizar” a vítima, deixando-a em condição de vulnerabilidade e<br />

insegurança:<br />

Uma vez eu fiquei preocupada. Tinha um menino de óculos escuros e<br />

walkman na sala. Eu pedi para que ele tirasse e ele não tirou. E ele teve tão<br />

azar que logo em seguida entrou a diretora, a vice-diretora da tarde. Era<br />

uma turma terrível, muito barulhenta. Ela olhou para ele e mandou ele<br />

tirar. Pareceu tudo combinado, mas não tinha nada combinado. Mandou<br />

ele tirar e ele disse que não tirava. Ela disse que ele iria sair de aula. Ao sair<br />

da aula, ele me encarou e veio pra cima de mim. Eu fiquei gelada, dura.<br />

Não dei um passo. Achei que ele iria me agredir. A gente sabe que ele<br />

estava envolvido com drogas. Mas ele veio para cima de mim, mas eu<br />

fiquei bem quieta. Se eu tivesse dito alguma coisa, provocado, ele teria me<br />

agredido. Não disse nada. Só olhei pra ele bem séria. Ele me olhou assim,<br />

deu um passo para frente, se virou e saiu. (Entrevista com professora,<br />

Porto Alegre)<br />

As ameaças de morte também se dão nos contextos em que o professor<br />

passa a ser o alemão, o inimigo da facção rival, o que “justificaria” a agressão:<br />

Trabalhei numa escola em que um aluno botou uma arma de brinquedo<br />

na cabeça do professor. Uma turma que era muito agressiva também. Eles<br />

têm aquele linguajar do funk. E que me chamava de alemão. Alemão é<br />

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