09.05.2013 Views

Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Além do retraimento dos indivíduos que convivem na escola, o clima de<br />

ameaças tem conseqüências de várias ordens, incidindo na qualidade do<br />

ensino e no aproveitamento do aluno. É quando a escola deixa de ser considerada<br />

um lugar seguro e protegido, e passa a ser um lugar permeado por<br />

ameaças de agressão física e de morte. É nesse contexto que muitos alunos<br />

tendem ao absenteísmo, evitando freqüentar a escola:<br />

Eu me lembrei de um caso que aconteceu com um aluno. Todo dia ele<br />

vinha e chorava. Dizia que tava com dor de estômago, que a mãe ia levar<br />

no médico, mas não tinha levado e tal. Mas, depois, a professora foi a<br />

fundo e descobriu que ele estava sendo ameaçado pelos colegas de sala de<br />

aula. Isso aconteceu à tarde. Aí, foi feito todo um encaminhamento<br />

porque são crianças pequenas de 4ª série, com 10, 11 anos. Eu acho que,<br />

agora, as coisas estão normais, pois se descobriu o motivo por que ele se<br />

dizia enjoado e chorava. Na verdade, ele não queria ficar na sala. (Entrevista<br />

com professora, Porto Alegre)<br />

No início do ano, teve uma aluna, não sei se foi uma fofoca, que foi<br />

ameaçada de apanhar e a mãe veio. E o problema é que a menina não está<br />

nem freqüentando a aula, não tem vindo. (Entrevista com professora,<br />

Porto Alegre)<br />

Os alunos declaram que, mesmo diante da freqüência considerável com<br />

que a ameaça se dá no cotidiano escolar, há casos que não são denunciados ou<br />

são omitidos, especialmente pelos professores – o que sugere que a ocorrência<br />

de ameaças passou a ser vista como algo ordinário, mais uma vez evidenciando<br />

uma certa banalização da violência na escola.<br />

Evidencia também, <strong>entre</strong> os atores sociais que convivem na escola, uma<br />

orientação no sentido de hierarquizar as <strong>violências</strong> por tipos, sendo algumas,<br />

como as ameaças, considera<strong>das</strong> menos violentas do que outras: às vezes, os<br />

professores ficam quietos pra não incomodar muito a direção, por causa que acontece<br />

isso várias vezes. Tem ameaça, mas dificilmente a direção fica sabendo. Mas é só<br />

ameaça. Ninguém briga não.<br />

Este capítulo mostra que as ameaças não são <strong>violências</strong> menores e que, ao<br />

contrário, alimentam o poder do agressor e o medo da vítima. A intensidade<br />

assumida por esse tipo de violência – a ameaça de bater, de chamar traficantes,<br />

a ameaça de morte, até a concretização do ato – reforça a idéia de que<br />

ela precisa ser percebida e enfrentada pela comunidade escolar.<br />

169

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!