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Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

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em particular uma ação educativa e institucional, para mudar, reverter tal<br />

situação ou sistematicamente advertir e reeducar:<br />

É problema de racismo, o que a gente nota em sala de aula, que às vezes os<br />

alunos falam de brincadeira, falam daquela forma pejorativa, “Ó,<br />

negrinho e tal, pega isso pra mim”. A gente até tenta conversar: “Ó, não é<br />

assim que se trata, não deve fazer isso” mas às vezes eu acho que até<br />

inocentemente eles têm esse tratamento, mas a gente nota que é uma<br />

forma de tentar brincar ou querer agredir o outro, mas depois eles vêem<br />

que são amigos ali, mas... (Entrevista com professor, São Paulo)<br />

Considerando que nas relações sócio-raciais há distintos atores envolvidos,<br />

há que se discutir como os alunos percebem os xingamentos quando eles<br />

ou elas são o foco desses. As reações passam pelo silêncio, diante de uma<br />

agressividade, onde a vítima se sente impotente e se cala, não respondendo às<br />

ofensas:<br />

Já me chamaram de negra na sala de aula. “Você é feia”. Mas eu não me<br />

importei, porque eu tenho orgulho da minha raça, da minha cor. Não<br />

tinha significado ele me xingar, porque nem branco ele era, não sabia o<br />

que ele estava dizendo. Fiquei com raiva, mas não respondi nada. (Entrevista<br />

com aluna, Rio de Janeiro)<br />

As reações transitam também pelo choro, com impacto negativo na autoestima<br />

dos jovens e crianças alvos desse tipo de violência. Segundo Cavalleiro<br />

(1998) a inação, em situações desse tipo, revela um misto de medo, dor e<br />

impotência.<br />

Teve uns dias atrás que nós tínhamos que fazer uma dobradura. Aí tinha<br />

que recortar, mas eu não queria emprestar a tesoura, porque eu estava<br />

usando. Aí o menino falou assim: “Me empresta a tesoura”. Aí eu falei que<br />

estava usando. Aí ele veio de novo e viu que eu estava usando. Aí eu falei:<br />

“Não, espera aí”. Ele começou a me xingar. Me xingou de negrinha, me<br />

xingou de tudo que é nome, de negrinha da macumba. Eu chorei. (Entrevista<br />

com aluna, São Paulo)<br />

(...) eu e o Wallace. Eu também sou Wallace! O pessoal separa a gente,<br />

chamando um de branco e um de preto! (risos). Às vezes falam: “não é o<br />

tição não! É o branquinho”; às vezes, percebo que o Wallace fica bolado!<br />

(...). (Grupo de discussão de alunos, Rio de Janeiro)<br />

Nos discursos de alguns professores e diretores, há a descrição de situações<br />

limites, em que os alunos reagem e se revoltam, tentando revidar as ofensas:<br />

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