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Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

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Nas <strong>escolas</strong> em que to<strong>das</strong> as funções disciplinares foram <strong>entre</strong>gues à polícia<br />

e aos seguranças, a distância emocional <strong>entre</strong> o professor e os alunos se<br />

vê ampliada. Quando os professores se furtam ao contato íntimo com a<br />

cultura da juventude, eles deixam de estar em condições de ouvir os alunos,<br />

quando estes expressam seus problemas e medos pessoais, ou, então,<br />

traçam as fronteiras comportamentais que não devem ser ultrapassa<strong>das</strong><br />

pelos alunos. Os professores passam a estar “por fora”, em relação à cultura<br />

dos jovens. E os educadores, mesmo com o aumento da presença <strong>das</strong><br />

forças policiais nas <strong>escolas</strong>, têm cada vez mais dificuldade de impor a lei e<br />

os regulamentos. (Body-Gendrot, 2000 apud Devine, 2002, p. 220-221)<br />

Em contrapartida, Furlong (2000) ressalta a importância do relacionamento<br />

<strong>entre</strong> alunos e professores na construção de um ambiente de não-violência.<br />

Insiste que a violência na escola deve ser entendida como um problema<br />

educacional e, portanto, deve ser um ponto importante de discussão <strong>entre</strong> os<br />

membros do corpo técnico-pedagógico da escola e debatido dentro de sala de<br />

aula. Para tanto, o professor deve assumir uma postura ativa, falar, problematizar<br />

a questão. Deixar a solução a cargo de profissionais de segurança, sejam<br />

eles públicos ou privados, é uma forma de protelar o problema ao invés de<br />

resolvê-lo. A esse respeito Epp e Watkinson reforçam que:<br />

A violência escolar é um componente importante da vida cotidiana <strong>das</strong><br />

crianças nas <strong>escolas</strong>. Ela afeta a forma como eles andam, se vestem, lugares<br />

que vão e de quem são amigos. Enquanto os professores a tratarem como<br />

algo que é problema de outra pessoa, eles irão continuar a negligenciar a<br />

oportunidade de intervir em aspectos cruciais da vida <strong>das</strong> crianças. Por<br />

ignorar a violência escolar, os xingamentos, os empurrões, as brigas, os<br />

assédios, eles estão sendo condescendentes com esses comportamentos.<br />

Crianças vendo os professores passando diretamente por elas, fingindo<br />

não notar, aprendem que a forma que tratamos os outros, a forma que<br />

interagimos nas ruas ou nos parquinhos, não é da conta de ninguém, mas<br />

da própria conta. Professores devem falar sobre violência, devem reconhecê-la,<br />

examiná-la, dissecá-la, e deixar as crianças verem e entenderem seus<br />

segredos e suas fontes. Sem esse exame ele continua a ser um segredo terrível<br />

que a sociedade não consegue entender ou controlar (Epp e Watkinson,<br />

1997, apud Furlong, 2000, p. 6).<br />

Como já foi discutido no primeiro capítulo desse trabalho, a transição de<br />

uma escola de elite para uma escola aberta a to<strong>das</strong> as cama<strong>das</strong> sociais trouxe<br />

consigo o estranhamento <strong>entre</strong> os sujeitos. Se o professor não é mais a figura<br />

que centraliza a disciplina, tampouco o policial é visto pelo alunado como<br />

tendo essa atribuição – e o próprio policial não a incorpora.<br />

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