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Cotidiano das escolas: entre violências; 2006 - MULTIRIO

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(...) Eu vejo que, pelo menos três episódios que me marcaram, foi em<br />

relação à raça como chamar de macaco mesmo. E a menina dessa vez chorou<br />

bastante, o menino também, porque não aceitou de jeito nenhum. Quase<br />

que ele pula em cima do pescoço do cara, merecia. E aí tive que chamar os<br />

pais porque realmente fico com medo de um enquadramento legal contra<br />

menor. Mas a pessoa não aceitou não. Chamando de macaco mesmo por<br />

várias vezes segui<strong>das</strong>, chegou uma hora que estourou, aí aconteceu e quase<br />

bateu, aí foi em cima. (Grupo focal com professores, São Paulo)<br />

(...) mas aquilo ali pra ele, eu não sei, não posso dizer com precisão o que<br />

aconteceu, mas foi em função de ter chamado ele de “neguinho”. Ele ser<br />

chamado, ou chamaram, não sei o que aconteceu que ele chorou, que ele<br />

se revoltou com aquilo, mas às vezes é assim, é momentos que acontecem,<br />

e também depende muito de quem fala. (...). (Entrevista com diretora,<br />

Porto Alegre)<br />

Quando se associa raça e gênero, identifica-se que as meninas nas <strong>escolas</strong><br />

são vítimas de discriminações singulares, reafirmando as desvantagens <strong>das</strong><br />

mulheres negras, não somente em relação às brancas, mas também considerando<br />

os homens negros, o que é ressaltado na literatura. (Ver <strong>entre</strong> outros<br />

Gomes, 2003 e Henriques, 2002).<br />

Nos discursos dos alunos é possível observar a manifestação dessas<br />

desigualdades. As meninas e jovens negras são vítimas de discriminações e<br />

preconceitos, são preteri<strong>das</strong> pelos garotos e alvos de gozações e humilhações<br />

dos colegas.<br />

(...) certa vez uma de minhas amigas, estava “afim” de um menino da<br />

escola, sendo que ele era um tipo muito popular e conhecido na escola.<br />

Quando disse a ele que tinha uma amiga minha afim dele, ele ficou<br />

querendo saber quem era. Ficou interessado. Porém, quando eu falei que<br />

era essa minha amiga, ele disse que to<strong>das</strong>, menos ela, pois ele até achava<br />

ela legal, jeitosinha, mas tinha cabelo estranho, duro de relaxamento! E não<br />

dava não! Eu achei o fim, não sabia que isso rolava. (Grupo de discussão<br />

com alunos, Rio de Janeiro)<br />

Sobre os meninos, há seleções mais complexas, admitindo-se que há<br />

pretos e pretos. Se o menino for preto, legal, maneiro e bonitinho! Ele pega todo<br />

mundo. Mas se for preto, feio, e mané (...) tá ferrado... (risos). Vai virar “pega<br />

ninguém”.<br />

Alguns professores analisam a condição da menina negra em comparação<br />

ao menino negro, no tocante aos relacionamentos com os colegas. Atenta-se<br />

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