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CEPAL 2014<br />
Isto é explicado em grande medida pela maneira como se fez a<br />
integração dos povos indígenas latino-americanos à modernidade e<br />
globalização, contribuindo a uma paulatina perda dos idiomas e dialetos,<br />
ou à perda de seu caráter de língua materna. É essencial o papel que<br />
a educação e as políticas públicas podem desempenhar para mitigar e<br />
reverter estes processos, em resguardo da diversidade linguística e da<br />
riqueza cultural dos países da região.<br />
Embora tenha havido avanços importantes quanto à adequação dos<br />
sistemas jurídicos e constitucionais dos países latino-americanos no sentido<br />
de reconhecer e promover o direito à educação dos povos indígenas,<br />
é indispensável que isto se plasme nas instituições, para fomentar a<br />
multiculturalidade e o bilinguismo em todos os níveis educacionais.<br />
Nos últimos anos registrou-se uma mudança de paradigma a<br />
respeito da educação intercultural. Inicialmente estava associada com<br />
a educação bilíngue para crianças indígenas, mas hoje é considerada<br />
uma modalidade para todo o sistema educacional, não só para os povos<br />
indígenas, mas para o conjunto da população no sistema educativo. As<br />
evidências disponíveis sugerem que a educação intercultural bilíngue<br />
foi em geral positiva nos países da região que a implementaram<br />
(UNESCO, 2013).<br />
Dado que o acesso ao sistema educacional não garante per<br />
se a qualidade nem a pertinência cultural do processo de ensino e<br />
aprendizagem, a educação deve levar em consideração o conteúdo,<br />
os valores e os conhecimentos das culturas indígenas, bem como os<br />
do resto da sociedade. Deste modo, as línguas e culturas indígenas<br />
passam a ser recursos pedagógicos valiosos nesse processo. Trata-se<br />
de descolonizar os conteúdos educacionais e começar a considerar<br />
dimensões como o gênero, a espiritualidade e a interculturalidade, entre<br />
outras (Cunningham, 2011, citado em SITEAL, 2011). O desafio consiste<br />
em incluir estes elementos nas políticas setoriais, no âmbito dos direitos<br />
de autonomia, controle territorial e plena participação. Por outro lado, é<br />
essencial que os governos garantam a continuidade educativa desde os<br />
níveis da infância até a formação universitária e de especialização e/ou<br />
pós-graduação, para assegurar a qualidade da oferta educativa para os<br />
povos indígenas, em especial no que se refere às características culturais<br />
dos estudantes.<br />
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