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cepal-desafios

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CEPAL 2014<br />

complementaridade, dignidade, participação coletiva, justiça social,<br />

harmonia com a mãe natureza e com a comunidade e o bem-estar<br />

coletivo e familiar— e que poderiam ser traduzidos como “bem viver”<br />

ou “viver bem”. Posto que os povos indígenas baseiam sua vida nas<br />

diferentes experiências a partir de suas próprias culturas ou sistemas de<br />

vida em estreita relação com a mãe natureza, o conceito de bem viver/<br />

viver bem tem uma expressão nos idiomas próprios.<br />

A reconstrução ou construção do bem viver/viver bem refere-se<br />

então a uma relação estreita entre o que foi como povo, o presente e<br />

o futuro. Sua referência é a memória do passado histórico, conhecido<br />

como o tempo da liberdade, e esteve presente de forma permanente<br />

desde o início da luta ao longo do processo que vai da ocupação por<br />

outras culturas até a atualidade. Por esta razão, a nostalgia da vida do<br />

bem viver/viver bem passa pela memória histórica de luta, o respeito<br />

aos seus territórios, identidade, idioma, soberania alimentar e direitos<br />

que interessam e afetam os povos indígenas.<br />

Sob a perspectiva da institucionalização, é possível afirmar que é<br />

um conceito bem-sucedido, a tal ponto que o movimento indígena pôde<br />

inseri-lo nas constituições do Equador (2008) e Estado Plurinacional da<br />

Bolívia (2009). No entanto, esta mesma inclusão na legislação estatal<br />

acarretou uma inflação de significados e práticas que, de acordo com<br />

as organizações indígenas, ameaça o espírito primigênio do conceito,<br />

na medida em que algumas das políticas aplicadas por certos Estados<br />

mostraram esta contradição ao não respeitar amplamente os ideais do<br />

bem viver/viver bem: por um lado, alentaram a preservação dos recursos<br />

naturais, mas por outro implementaram agressivas políticas extrativistas<br />

que afetam os territórios dos povos indígenas.<br />

Como se traduz o bem viver/viver bem em medições concretas?<br />

Avançar de conceitos e indicadores demasiado amplos ou vagos<br />

para outros mais concretos e contextualizados não é tarefa simples.<br />

Tampouco isso é facilitado pelo fato de que vários defensores do bem<br />

viver/viver bem já explicitaram que não se pode medir; por isso, não<br />

caberia se dedicar a construir indicadores. Outros acham preciso<br />

avançar na direção de quantificação e medição, como se vem alentando<br />

igualmente a partir das Nações Unidas no nível internacional. Portanto,<br />

trata-se de uma nova abordagem ao grande tema do desenvolvimento<br />

como discurso e prática sobre cenários de convivência futuros, através<br />

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