SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS
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congressos e pelo incentivo às demais atividades ligadas ao repente,<br />
programas de rádio, cantorias com os poetas locais, e cantorias e<br />
congressos com os poetas profissionais itinerantes.<br />
Este dado é importante, pois elucida a relação do indivíduo com a<br />
memória coletiva. De acordo com Maurice Halbwachs (1990), a relação do<br />
sujeito com os quadros sociais da memória indica o interesse dos<br />
indivíduos no ato de lembrar, visto que, só há vontade de lembrar, aquilo<br />
que, vivido dentro de uma comunidade, faz o recordador sentir-se um ator<br />
social atuante.<br />
De modo geral, a questão da linhagem é tão elusiva nas narrativas<br />
dos cantadores, que mesmo aqueles que não possuem uma linhagem direta<br />
como ponto de apoio para justificar sua genealogia, ainda assim,<br />
encontram explicação com fundamento nos antepassados:<br />
Eu acho que a poesia tem uma parte que é hereditária. Às vezes tem um pai<br />
que é cantador e os filhos não sabem nenhum verso, é o que tem<br />
acontecido muito hoje em dia. Às vezes o pai não é poeta e o filho é, mas<br />
na família teve alguém que soube, aí veio de longe. (Zequinha Rangel)<br />
A partir do pensamento do sociólogo francês, podemos observar<br />
que toda vez que, as linhagens são reconstituídas, elas se fortalecem na<br />
memória coletiva, permitindo atualizar as lembranças dos quadros sociais e<br />
prolongar o passado para as futuras gerações.<br />
Contudo, Maurice Halbwachs nos ressalva que, mesmo sendo a<br />
memória da infância, uma vez relembrada, ela não pode ser a mesma,<br />
conseqüência inevitável do amadurecimento intelectual de quem lembra.<br />
Desta feita, o autor conclui que, apesar do vínculo no passado, a memória<br />
se apresenta como representações construídas no presente.<br />
Esta reflexão nos faz problematizar o que tem mantido a memória<br />
dos poetas do passado tão viva em meio aos repentistas amadores de<br />
Itapetim, de modo a dar-nos abertura para compreendermos um processo<br />
contemporâneo de ressurgimento da memória.