SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS
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Apesar de detectarmos uma certa ausência paterna na rotina da criança,<br />
não identificamos, nessas crianças, nenhuma reclamação referente à<br />
situação. As crianças, na maioria das histórias, só procuram os pais quando<br />
necessitam de dinheiro para comprar algum brinquedo ou presente para<br />
um amigo: Pai! Me aluma um dinheilo? (pergunta de Cebolinha) e o jeito é apelar<br />
pro meu paizão! (fala de Cascão). Uma possibilidade de interpretação para o<br />
termo “apelar” pronunciado por Cascão é que o seu pai é o único membro<br />
da casa a possuir uma fonte de renda e como a criança e a mãe dependem<br />
financeiramente do pai, recorrer ao genitor é a maneira encontrada. As<br />
situações mostradas acima fortalecem o papel de pai provedor.<br />
Quanto ao relacionamento entre Chico Bento e o seu pai, não<br />
identificamos essas situações analisadas no parágrafo anterior. Não há<br />
nenhuma história que mostre Chico solicitando dinheiro ao pai; é como se o<br />
trabalho desenvolvido na roça, de alguma maneira, servisse como fonte de<br />
renda (na ocasião que o menino coloca uma banca na feira para vender a<br />
colheita).<br />
Diferentemente das crianças urbanas, Chico não precisa de dinheiro<br />
para comprar brinquedos, a grande maioria deles são construídos pela<br />
própria criança. Como a presença da televisão não exerce influência em seu<br />
cotidiano, o menino não é seduzido pela publicidade de carrinhos,<br />
bonecos, etc., que é veiculada por esse meio de comunicação. Para essa<br />
criança, os brinquedos industrializados não exercem predominância sobre<br />
os brinquedos artesanais; ao contrário, quando o primo da cidade oferece<br />
seus brinquedos eletrônicos, Chico não consegue ver “graça” nenhuma, já<br />
que eles fazem tudo sozinhos. Para Chico Bento, independente do brinquedo<br />
utilizado: pra si diverti bastante é só usá um poco di imaginação.<br />
Uma outra questão merecedora de destaque é quanto à interação<br />
que ocorre entre Chico e seu Bento, por eles trabalharem juntos na lavoura.<br />
Chico Bento, quando “crescer”, deseja ser igual ao pai. Para essa criança, o<br />
seu futuro não é surpresa, ele dará continuidade a uma tradição familiar.<br />
Seu grande desejo é seguir os mesmos caminhos do pai. Seu Bento serve de<br />
inspiração para essa criança e assim, a infância de Chico está cristalizada na<br />
tradição e na manutenção de valores geracionais.