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SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS

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contraria as expectativas normativas construídas dentro da noção moderna<br />

dos direitos humanos. Já se tornou quase senso comum nas sociedades<br />

contemporâneas ocidentais que a humilhação é a vivência de uma<br />

exposição dolorosa ou punitiva ao julgamento negativo de outros em<br />

circunstâncias que são impostas sobre as vítimas, ou ainda o rebaixamento<br />

forçado de uma pessoa ou grupo, um processo de subjugação que os despe<br />

de seu orgulho, honra ou dignidade (LINDNER, 1999 e 2000).<br />

A humilhação – assim como outros sentimentos dolorosos – não é<br />

só uma questão de sentir uma emoção, aparece dentro de um processo<br />

social e deve ser vista dentro de um contexto mais amplo como um dos<br />

aspectos centrais da interação entre os seres humanos e seu ambiente social<br />

e natural. Sendo assim, a noção de direitos humanos como norteadora de<br />

sentimentos de humilhação, segundo Lindner, esteve ausente do repertório<br />

cultural da humanidade durante a maior parte de sua história e,<br />

particularmente no que toca a imprensa de sensação, alguns deles ainda<br />

estão ausentes, se tomarmos a definição de direitos humanos de forma<br />

estrita. Foi apenas a partir do século XVIII que homens e mulheres<br />

passaram a ser vistos como merecedores de direitos humanos básicos e<br />

que todas as formas de “tirania” e “ditadura” são uma grave violação a<br />

estes direitos. E mais, as demandas impostas pelo crescimento da<br />

interdependência e a “revolução do conhecimento” estão minando as<br />

hierarquias coercitivas.<br />

Esta autora mostra ainda que, em longo prazo, ocorrem<br />

desenvolvimentos importantes dentro das sociedades no que se refere a<br />

seu “repertório cultural” (ou “roteiros culturais”, “mitos culturais”, “cultural<br />

mindscapes” ou “cultura-lógica”). Novos pontos de referência se<br />

estabeleceram, novos marcos culturais podem ser desafiados, mas cuja<br />

existência não pode ser facilmente ignorada como, por exemplo, a ideia de<br />

que é aceitável subjugar a natureza, a ideia de que hierarquias sociopolíticas<br />

desiguais são legítimas, e finalmente, a noção de direitos humanos. Todas<br />

as culturas reagem a estes pontos de referência, adotando-os, modificandoos,<br />

ou rejeitando-os. Antes da ideia de direitos humanos existir, ninguém<br />

poderia fazer uso dela. Ao entrar no repertório cultural do Ocidente, a

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