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SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS

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experiência em que o sujeito que fala, em vez de se exprimir se expõe, vai<br />

ao encontro de sua própria finitude e sob cada palavra se vê remetido a sua<br />

própria morte”.<br />

Outro aspecto importante da linguagem que se mostra na<br />

experiência do fora é que, na medida em que desaparece tanto o sujeito<br />

que fala quanto o objeto de que se fala, esse discurso do fora é uma fala na<br />

vertente invisível das palavras, que Foucault costuma designar como o<br />

murmúrio das palavras, uma fala que diante do já dito, do impresso, do<br />

manifesto, pronuncia a voz que desfaz o discurso, um discurso sobre o não<br />

discurso, uma ficção do espaço invisível em que o discurso aparece. O<br />

pensamento do fora restitui ao discurso o seu caráter de acontecimento, de<br />

invenção.<br />

A questão a ser pensada aqui é como se relaciona o pensamento do<br />

fora com a noção de ficção? Em que medida a ficção é modo de operar<br />

desse pensamento, que é, ao mesmo tempo, uma experiência limite? Em<br />

outro artigo publicado em 1963 na revista Critique, intitulado “Distância,<br />

aspecto, origem”, Foucault procura discutir o que, para ele, caracterizaria a<br />

noção de ficção presente nos escritos de Thibaudeau, Baudry, Pleynet e<br />

Sollers, escritores vinculados ao novo romance de criação que se<br />

agrupavam em torno da revista Tel Quel. Vemos logo de saída a<br />

preocupação do filósofo francês em propor a substituição dos conceitos<br />

tradicionais que opõe real/irreal, objetivo/subjetivo, seja em um sentido<br />

positivo, seja em um sentido dialético, pela noção de distância para se<br />

compreender a ideia de ficção. Assim, a ficção é definida por Foucault<br />

(1994, p. 280) como “a nervura verbal do que não existe, tal como ele é”.<br />

O ser da linguagem se relaciona com a ficção na medida em que esta é uma<br />

linguagem que procura se situar nesse espaço de auto implicação da<br />

linguagem consigo mesma. Ela não é, portanto, uma linguagem exclusiva<br />

de um fazer artístico, mas de qualquer linguagem que se situe nesse espaço<br />

da dobra, do duplo. Assim Foucault (1994, p. 280/281) define o espaço<br />

dessa linguagem:

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