SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS
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seus recordadores dificuldades objetivas da memorização palavra por<br />
palavra, optando pela informação inexata, ou mesmo pelo improviso, já<br />
que a repetição fidedigna não é sentida como necessária, útil ou apreciável,<br />
conforme nos ilustra as palavras de Fernando Emídio:<br />
Porque pro cantador é fácil mesmo no improviso, porque ele decorar tudo<br />
que ele vai cantar é pesado. Sou mais cantar de improviso, porque se<br />
acertar tudo bem, se errar também. Mais o cara ta com quinze, vinte, trinta<br />
verso guardado na cabeça é pior quando chegar na hora de cantar.<br />
Este mesmo cantador, em disputa num dos congressos locais<br />
eclodiu o seguinte verso:<br />
Itapetim até hoje ta de luto<br />
Mas a arte não perde o seu crânio<br />
Eu pergunto cadê Rogaciano<br />
Que morreu sem deixar substituto<br />
Quando a árvore da rima perde o fruto<br />
Cristo bota outra muda em seu lugar<br />
Só pra ver a semente germinar<br />
Ta nascendo poeta todo dia<br />
É no Ventre Imortal da Poesia<br />
Que a viola soluça sem parar<br />
O historiador francês enfatiza que, nas sociedades<br />
predominantemente sem escrita, há especialistas da memória ou “homens<br />
memória” que dominam o conhecimento da genealogia. Outra dimensão<br />
importante da memória étnica é o canto, que atribui a memória mais<br />
possibilidades criativas. Podemos entender esta função do canto pelas<br />
palavras do poeta Lourival Batista:<br />
Cantar pra quem entende aí bate palma e o poeta se inspira ainda mais,<br />
quem entende começa a aplaudir aí a gente vê que eles estão gostando, aí a