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SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS

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medida em que configura grupos locais em relação a um fundo infinito de<br />

socialidade virtual; eles se tornam locais, isto é, atuais, ao se extraírem desse<br />

fundo infinito e constituírem seus próprios corpos de parentes, reforçando<br />

a tese de que a relação é anterior à substância, e a identidade um caso<br />

particular de diferença. Assim, a afinidade é uma manifestação privilegiada<br />

de tal premissa ontológica ameríndia, acoplada à perspectiva de que a<br />

consanguinidade é um valor-limite da afinidade, no sentido de que não<br />

pode ser atingido.<br />

Dificilmente haverá uma identidade consanguínea absoluta entre<br />

duas pessoas e de outro. Sua fabricação depende da extração do fundo<br />

virtual mediante a diferenciação intencional, o que ocorre com a<br />

nominação, a amizade formal, e construída pela diferença universalmente<br />

válida. Ou seja, não há relação sem diferenciação, já que “os parceiros de<br />

qualquer relação estão relacionados porque são diferentes entre si [...] Eles<br />

se relacionam através de sua diferença e se tornam diferentes através de sua<br />

relação” (Viveiros de Castro, 2002, p. 422; 423).<br />

A inserção da diferença no sistema garante a sua dinâmica, “pois<br />

alguma diferença é sempre necessária para ‘dar início’ à identificação dos<br />

Humanos entre si e sua distinção de outros tipos de sujeitos por meio do<br />

parentesco” (Souza, 2004, p. 47). A distância social gerada pela substância,<br />

ao lado do esquecimento, funcionam no sentido de repotencializar<br />

relações.<br />

Pensar o parentesco nos termos de que a consanguinidade é<br />

fabricada e a afinidade potencial é algo dado, significa afirmar que não se<br />

trata de um sistema autopoiético, como quer Gow (1997), uma vez que a<br />

sua reprodução depende do que está ‘fora’ dele, enquanto sua condição; a<br />

afinidade potencial, sendo a condição de exterioridade do parentesco, faz a<br />

ponte entre o parentesco e o seu exterior (Viveiros de Castro, 2002, p.<br />

152).<br />

Embora Gow (1997, p.43) trabalhe a partir do pressuposto de que o<br />

próprio sistema dá origem a si mesmo e que não há ponto privilegiado por<br />

onde se entrar nele, nem caminhos predeterminados para percorrê-lo,<br />

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