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SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS

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estruturam em termos de idiomas simbólicos 3 . Assim, a definição de<br />

grupos e a transmissão de bens não representam o interesse da etnologia<br />

sobre os ameríndios, pois, ao contrário de grupos, encontramos categorias<br />

de pessoas e a fabricação de corpos. O corpo é o ponto de convergência da<br />

oposição individual (traduzido pelo sangue, pela periferia das aldeias e pelo<br />

mundo cotidiano) versus coletivo ou social (traduzido pela alma, pelo nome,<br />

pelo centro e pela vida ritual), o que talvez remonta à equação suposta por<br />

DaMatta (1971) entre substância e relações “dadas”, cerimonial e relações<br />

“construídas”, que lhe permitem explicar as diferentes alternativas de<br />

classificação abertas pelo sistema Apinayé.<br />

O indicativo de que era preciso rever os conceitos importados para<br />

as análises etnológicas sobre os ameríndios já se coloca com os resultados<br />

das pesquisas empreendidas pelo Harvard-Central Brazil Project (doravante<br />

HCBP), a partir dos anos 60, sob a coordenação de David Maybury-Lewis.<br />

A necessidade de suplantar os conceitos do modelo africano se justificava<br />

no fato de, nas sociedades ameríndias, não se encontrarem grupos<br />

corporados, linhagens, clãs, etc., fato amplamente debatido no Congresso<br />

de Americanistas em 1976, mais precisamente no Simpósio “Tempo social<br />

e espaço social nas sociedades sul-americanas”; segundo Overing Kaplan<br />

(1977), as etnografias sobre os ameríndios impuseram novos referenciais<br />

ao modelo africanista, mas, sobretudo, aos estudos de ecologia cultural<br />

desenvolvidos na América do Sul, o que nos faz conceber que começava a<br />

sistematização de uma crítica teórica acoplada a uma perspectiva<br />

propriamente etnográfica.<br />

O foco etnográfico nos coletivos de tronco Jê não apenas levou a<br />

cabo as premissas de que a corporalidade podia dar bons rendimentos<br />

analíticos atestados pelas pesquisas sobre os Krahó realizadas por Carneiro<br />

da Cunha (1978) e Melatti (1978), como também promoveu a dissolução<br />

3O texto foi apresentado na conferência de abertura do Simpósio “A Pesquisa Etnológica<br />

no Brasil” realizado no Museu Nacional no dia 21 de junho de 1978. Porém, a publicação<br />

ocorreu apenas em 1987, provavelmente apreendido como um balanço das análises<br />

etnológicas e como um programa de pesquisas a serem empreendidas pelos etnólogos.

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