SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS
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antiga na história da humanidade. Foi somente a partir do século XVII que<br />
começaram a se registrar escritos e práticas que retratavam alguma<br />
preocupação moral e pedagógica com o cuidado e a educação das crianças.<br />
O interesse ou a indiferença com relação à criança não são<br />
realmente característica desse ou daquele período da história. As duas<br />
atitudes coexistem no seio de uma mesma sociedade, uma prevalecendo<br />
sobre a outra em determinado momento por “motivos culturais e sociais”<br />
que nem sempre é fácil distinguir (GÉLIS, 1995, p. 328).<br />
Uma das primeiras manifestações, a partir das quais foi constatado<br />
um “sentimento de infância”, foi o encantamento dos adultos com os<br />
gracejos das crianças. Áries (1981), a partir da análise de escritos (diários e<br />
cartas) que se revelaram para os historiadores sociais como fontes de<br />
pesquisa para a reconstituição da vida cotidiana do passado, mostra que o<br />
deslumbramento com as crianças tornou-se um valor social a ser exibido,<br />
adquiriu status de prestígio.<br />
Gradativamente, foi instalando-se a necessidade de diferenciar a vida<br />
dos adultos e das crianças, assim como dar a elas tempo e estímulos que<br />
requeriam para seu desenvolvimento. Foi preciso admitir que, além de<br />
lento, o crescimento das crianças envolve muito investimento dos adultos;<br />
criar passou a ser sinônimo de educar.<br />
Ao ocupar-se das crianças, foram sendo descobertas suas<br />
necessidades particulares, assim como o fato de que seu “pensamento<br />
funcionava com uma lógica particular” (CORSO, CORSO, 2006, p.189).<br />
As modificações da situação da criança não são resultantes apenas<br />
das transformações que as estruturas familiares sofreram nos séculos<br />
clássicos, mas, também, a indiscutível influência exercida pela Igreja e pelo<br />
Estado. Assim, a afirmação do sentimento da infância, por volta de 1550,<br />
foi acompanhada de toda uma série de disposições legais que respondiam a<br />
preocupações de ordem religiosa e pública, ao mesmo tempo. Conforme<br />
Gélis (1995, p. 328),<br />
Devemos interpretar a afirmação do ‘sentimento da infância’ no século<br />
XVIII – quer dizer, nosso sentimento da infância – como o sintoma de uma