SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS
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muito sobre o processo de construção da identidade que está ocorrendo<br />
no momento. Isto acontece pelo próprio atributo da memória, que tem,<br />
como disse Ecléa Bosi (1999), uma força ao mesmo tempo profunda e<br />
ativa.<br />
Isto posto, a prática do Congresso, admitida pelos itapetinenses, há<br />
muito vem alterando a tradição da cantoria, a chamada cantoria de pé-deparede,<br />
em que a dupla de violeiros é levada a desenvolver temas diversos,<br />
sob variadas toadas rítmicas e estilos, durante quatro ou cinco horas. Numa<br />
cantoria, como o público tem a oportunidade de se aproximar dos poetas,<br />
os motes são feitos no calor da ocasião e repassados das mãos do público<br />
para as mãos dos poetas. O poeta, para satisfazer a expectativa do público<br />
improvisa em cima do mote sugerido.<br />
Outro ícone da cantoria é a bandeja que, na verdade, funciona como<br />
forma de pagamento ao poeta. O público que é admirador e bom<br />
conhecedor faz questão de pagar bem pelos versos bem feitos. Se o<br />
cantador desenvolve o mote lançado ou se o público se emociona com os<br />
versos cantados, o dinheiro sai sem piedade. A bandeja, ao contrário do<br />
que possa parecer, não é objeto aviltante ao poeta. Uma bandeja<br />
guarnecida é o reconhecimento do desempenho dos poetas.<br />
Atualmente as cantorias de pé-de-parede são eventos raros e<br />
acontecem através do apelo à tradição. Desde a migração nordestina para o<br />
centro-sul em meados do século passado e do êxodo rural para as<br />
metrópoles regionais, a poesia de repente foi tomando novos contornos e<br />
o poeta repentista foi-se profissionalizando. Desse modo, o congresso<br />
apresenta uma forma distinta da disputa e reflete a atividade do poeta<br />
como profissional nos centros urbanos. No congresso (ou festivais),<br />
diferentemente da cantoria, ocorre a apresentação de dezenas de duplas<br />
que “pelejam” entre si o primeiro lugar na classificação do júri,<br />
modificando assim toda a perspectiva do ritual. A maioria dos repentistas<br />
considera as restrições dos congressos em relação à liberdade de criação no<br />
improviso.<br />
Nesse sentido, podemos observar um problema da relação entre<br />
identidade, memória e mudança, uma vez que para o grupo assumir-se