SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS
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corresponderia à linguagem espacial da ficção, que substituiria a linguagem<br />
submetida aos ditames da temporalidade linear em que se trataria de ir do<br />
passado rememorado ao presente atual. Segundo Foucault (2000, p. 168) a<br />
linguagem teria tido, até o século XVIII, como papel exclusivo a função de<br />
dizer o tempo fixando o desenrolar linear da fala, mas a partir do século<br />
XIX, com o surgimento da literatura moderna dentre outras manifestações<br />
do pensamento, se teria começado a perceber que:<br />
[...] a função da linguagem não é o seu ser: se a função da linguagem é<br />
tempo, seu ser é espaço. Espaço porque cada elemento da linguagem só<br />
tem sentido em uma rede sincrônica. Espaço porque o valor semântico de<br />
cada palavra ou de cada expressão é definido por referência a um quadro, a<br />
um paradigma. Espaço porque a própria sucessão dos elementos, a ordem<br />
das palavras, as flexões, a concordância entre as palavras ao longo da cadeia<br />
falada obedecem, mais ou menos, às exigências simultâneas, arquitetônicas,<br />
por conseguinte espaciais, da sintaxe [...] Durante muito tempo,<br />
praticamente até hoje, confundiram-se as funções anunciadoras e<br />
recapituladoras do signo, que são funções temporais, com o que lhe<br />
permitia ser signo. E o que permite a um signo ser signo não é o tempo,<br />
mas o espaço.<br />
Em “A linguagem do espaço”, outro artigo em que Foucault (1994)<br />
sintetiza o que, para ele, marca o aspecto comum da literatura do grupo de<br />
Tel Quel e do novo romance francês, em que faz referências às obras de<br />
Marcelin Pleynet, Roger Laporte, Claude Ollier e Michel Butor 3 . Segundo<br />
ele, a linguagem dessa literatura se volta para o espaço, operando um modo<br />
de narrativa mediado pelo desvio, pela distância, pela dispersão, pela<br />
fratura, pela diferença, não como tema das narrativas, mas no modo em<br />
que a linguagem vem até nós, “o que faz com que ela fale”. O que<br />
caracteriza essa narrativa do espaço é a presença de um sujeito neutro “il”<br />
que, suprimindo o sujeito falante, o que faz falar é a distância dos objetos<br />
descritos, vista como uma dobra da própria linguagem, espaço comum a<br />
linguagem e as coisas (FOUCAULT, 1994, p. 408).<br />
3 Trata-se das obras: Le parc, de Pleynet, La Veille de Laporte, La mise em scène e Le<br />
maintien de l’orde de Olier e Description de San Marco de Butor.