SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS
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elação à infância e ao seu sujeito, a criança. Quando defendemos que as<br />
crianças mauricianas gozam da plenitude de sua infância, queremos dizer<br />
que, nesses quadrinhos, elas são atores sociais em pleno direito: direito à<br />
família, à escola, ao lazer, ao entretenimento, às brincadeiras, à saúde e aos<br />
amigos. Questões relativas à infância e à criança são os fundamentos de sua<br />
obra. Tendo a criança como protagonista de seus quadrinhos, Maurício<br />
consegue estabelecer um entrelaçamento do discurso das crianças de papel<br />
com o discurso da mãe, do pai, da professora, da escola. O universo<br />
ficcional mauriciano é povoado pelos diversos discursos que emanam do<br />
social.<br />
Conforme Bakhtin (1995), toda linguagem é dialógica, e o<br />
dialogismo pode ser pensado em dois planos: por um lado, a relação entre<br />
discursos; por outro, a relação entre sujeitos. O primeiro refere-se à<br />
interdiscursividade, conceito associado aos estudos sobre sentidos. O<br />
segundo diz respeito ao conceito de intersubjetividade, o discurso não<br />
existe por si mesmo. A condição de existência do discurso, é que ele é um<br />
espaço entre sujeitos.<br />
O discurso dos quadrinhos pode se caracterizar como um discurso<br />
que é atravessado por outras vozes, por outros discursos, pelo<br />
interdiscurso. Isso quer dizer que, no discurso quadrinizado de Maurício,<br />
encontramos as vozes da família, da escola, de outros quadrinhos, como os<br />
do quadrinista Ziraldo, etc. É um discurso marcado pela presença do<br />
outro, de um já-dito que materializa-se nas vozes das crianças de papel.<br />
Portanto, ao longo do percurso por nós empreendido, tentamos<br />
explicar as nossas reflexões teóricas e situar o lugar de onde pretendíamos<br />
fazer a leitura de uma prática discursiva para verificar o seu funcionamento<br />
concreto. Consideramos a prática discursiva dos quadrinhos, que num<br />
recorte julgado representativo do gênero (os quadrinhos de Maurício de<br />
Sousa) subsidiou as nossas análises, tomando a infância como categoria<br />
conceitual. Essa categoria foi analisada sob três eixos: família, escola,<br />
brincadeiras e amizade. Tendo esses temas como núcleos, chegamos aos<br />
procedimentos de análise deles decorrentes.<br />
Desenhado, por meio dessas análises, o perfil de um corpus<br />
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