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SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS

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pensador francês são mais bem compreendidas se lembrarmos o caráter de<br />

seletividade que tem toda memória. Nas nossas narrativas, escolhemos,<br />

inconscientemente, as lembranças que nos convêm, e recalcamos ou<br />

apagamos aquelas que nos são desconfortáveis. Por que sofrer duas vezes?<br />

Por causa disso, existem, às vezes, falsas lembranças que julgamos ter<br />

vivido, assim como recordações reprimidas a tal ponto que pensamos<br />

nunca as termos experienciado. Isso é muito comum quando há no grupo<br />

uma memória coletiva consolidada, pois, a partir dela, têm-se as balizas que<br />

nortearão e disciplinarão os discursos.<br />

Nesse aspecto, lembra Benjamin, em um dos seus textos clássicos,<br />

que a narrativa é uma transmissão de experiências e tem um caráter<br />

utilitário. O dom do narrador é poder contar sua vida. Porém, ele não está<br />

interessado em transmitir o “puro em si” da coisa narrada como uma<br />

informação ou relatório. “Ela [a narrativa] mergulha a coisa na vida do<br />

narrador para em seguida retirá-la dele. Assim se exprime na narrativa a marca<br />

do narrador, como a mão do oleiro na argila do vaso” (1994, p. 205, grifo nosso).<br />

Também Halbwachs, em sua obra clássica A memória coletiva (2006),<br />

ensina-nos que lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar,<br />

com imagens e ideias de hoje, as experiências do passado. A memória<br />

“individual” não existe sozinha, pois sempre está relacionada à memória e<br />

aos interesses do grupo. Por isso, quando lembramos, é porque os outros e<br />

a situação presente fazem-nos lembrar. Quando os rafaelenses veem as<br />

imagens de sua antiga cidade, eles relembram fatos que viveram juntos: dos<br />

passeios na praça, dos banhos no rio, das missas, das festas da padroeira,<br />

das vaquejadas, dentre outros momentos que não poderiam haver vivido<br />

sozinhos.<br />

Face ao exposto, acreditamos que o perfil criado para a cidade de<br />

São Rafael, no orkut, tem servido de arquivo vivo e sempre aberto, para<br />

onde são encaminhadas imagens e testemunhos da antiga cidade por uma<br />

população que se esforça, voluntária ou involuntariamente, em<br />

disponibilizar às gerações novas e futuras, imagens de si própria, do seu<br />

passado. Um passado vítima das adversidades, mas que, por isso mesmo, é<br />

capaz de elevar a autoestima daquele povo com as histórias de superação.<br />

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