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SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS

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morte, dos “marginais” ou mesmo de pessoas portadoras de estigmas.<br />

Nessas formas de controle estão também envolvidos fatores<br />

psicossociais que encontram expressão em sentimentos e emoções<br />

particulares, e que estes sentimentos e emoções estão estreitamente<br />

relacionados com o desenvolvimento de repertórios culturais de distinção<br />

nas sociedades em que existe uma forte estrutura social hierárquica<br />

(LINDNER, 1999).<br />

Em estudos realizados nas sociedades profundamente<br />

hierarquizadas de alguns países africanos, Lindner demonstra que se curvar<br />

ante aqueles que exercem autoridade é uma prática de longa data e a<br />

capacidade de humilhar e ser humilhado são aspectos que fazem parte da<br />

estrutura sociocultural, dando a esta cultura um caráter potencialmente<br />

explosivo. Nessas sociedades, a humilhação pode ser entendida não como<br />

simplesmente uma condição extrema ou marginal, mas uma característica<br />

central da ordem social. Esta ideia contraria, até certo ponto, a noção<br />

contemporânea da sociedade ocidental de que a humilhação é a violação<br />

dos direitos ou da dignidade pessoal mais profunda que um ser humano<br />

possui.<br />

Vistos dentro de um contexto mais amplo, os elementos que<br />

constituem a humilhação podem ser reconhecidos como mecanismos<br />

fundamentais na formação da sociedade moderna. Tem a ver com o que<br />

Goffman (1988, p.12) chama de identidade social virtual e real. A primeira<br />

seria formada de uma série de demandas que fazemos aos indivíduos e aos<br />

quais imputamos um caráter potencial. A segunda seria formada pelos<br />

atributos que os indivíduos realmente provam possuir. Quando estes<br />

indivíduos se apresentam a nós com atributos que os distinguem dos<br />

outros e, através destes, se tornam pessoas diminuídas ou socialmente<br />

inferiores, são portadores de estigma. O estigma atribui ao seu portador<br />

uma discrepância específica entre a identidade social virtual e a identidade<br />

social real. Porém, o termo estigma é usado referindo-se a um atributo<br />

profundamente depreciativo, mas o que é necessário é uma linguagem das<br />

relações e não dos atributos, pois um atributo que estigmatiza alguém pode<br />

conferir normalidade a outrem, não sendo, pois, o estigma em si mesmo,

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