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SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS

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como sendo o mesmo, é preciso atenuar que as mudanças sejam aparentes.<br />

Nesse caso, é mais fácil para o poeta profissional admitir a positividade das<br />

mudanças no Congresso, graças ao status que ele propiciou ao cantador nos<br />

centros urbanos. Entretanto, os artistas de Itapetim, protagonizam um<br />

modelo, o Congresso, exaltando subliminarmente um outro, a cantoria dos<br />

antigos, a fim de afirmar que estão fazendo a mesma coisa. O poeta Inácio<br />

Augusto faz esta referência:<br />

Terra dos mais poeta é Itapetim, porque você veja (fazendo o gesto de<br />

contar nos dedos): Dimas Batista nasceu aqui, Lourival Batista nasceu aqui,<br />

Otacílio Batista nasceu, Rogaciano Leite, Job Patriota nasceu aqui, Vital<br />

leite nasceu aqui, Severino Ferreira do Mocambo nasceu aqui, Zé Ferreira<br />

do Mocambo nasceu aqui, esses poeta tudo nasceu aqui. Esses homens<br />

enfrentaram Zé Soares em cantoria, que vinha de Caruaru pr’aqui, um dos<br />

maiores poetas que já teve.<br />

Em dissertação intitulada “A Poesia de Repente Volta Casa: Itapetim<br />

no Circuito de Congressos de Violeiros”, Souza (2006) investiga as razões<br />

da prática deste novo modelo no contexto itapetinense a partir das<br />

narrativas de cantadores, apologistas e jurados. Em síntese, o trabalho<br />

conclui que a adoção do congresso, no modelo da metrópole, representa<br />

um ensejo para atualização do ato de lembrar e criar, pois reativa um<br />

encontro com um saber ancestral para elaborar, no presente, a identidade<br />

com sentido de pertencimento comum e experiência intransferível.<br />

A sugestão de Stuart Hall (2004) é a de que devemos pensar em<br />

termos de “articulações”, que são relações entre memória e identidade que<br />

não têm necessariamente a obrigatoriedade de manter uma coerência<br />

consciente, mas que assumem seu sentido a partir do momento em que se<br />

reativam e se atualizam. Marc Augé (1997) complementa este raciocínio ao<br />

afirmar que é por meio das relações com o passado que as coletividades se<br />

conectam consigo mesmas e com o presente.<br />

A busca pelo controle da memória contribui para dar seguimento à<br />

identidade do agente social nela envolvido, seja ele um grupo ou um<br />

indivíduo. Ser o que se é depende, em grande medida, do teor da memória.

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