SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS
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consangüíneo ou um afim” (Viveiros de Castro, 2002, p. 406). Por outro<br />
lado, o que se propõe é fazer uma leitura sobre identidade e alteridade,<br />
investigando as relações de substância e a teoria indígena da relação.<br />
Perseguir as relações de substância no intuito de compreender o<br />
parentesco representa partir do pressuposto de que este é um “modo de<br />
transformação em relação ao qual é possível mapear os aspectos<br />
terminológicos, comportamentais e matrimoniais, bem como as ideologias<br />
de substância e as narrativas sobre incesto” (Souza, 2004, p. 29). A<br />
transformabilidade das pessoas repercute diretamente na concepção<br />
“construcionista” do parentesco expresso na construção da identificação<br />
das pessoas e dos papéis, a exemplo do que ocorre na couvade, onde os<br />
genitores não apenas intensificam as precauções, como também, passam a<br />
compartilhar cada vez mais a mesma comunidade de substância.<br />
A consubstancialidade cria uma identidade corporal, manifestando<br />
sua unidade no complexo de obrigações e de interdições da couvade e incide<br />
diretamente na alimentação e no sexo. Ao mesmo tempo em que se cria<br />
um grupo de coabstinência, as relações de substância tendem a enfraquecer<br />
com a distância, possibilitando um investimento em direção contrária à<br />
separação, por meio dos fluxos de alimentos e corporais.<br />
A aproximação do distante faz-se pela atualização constante do<br />
vínculo em termos da conduta, como ocorre na relação<br />
nominador/nominado e na amizade formal, uma vez que se orientam pela<br />
percepção de que certos “parentes” são considerados menos “parentes”<br />
que os outros, podendo ser com sucesso transformados em nominadores<br />
ou afins. Vale salientar que, no caso dos amigos formais, as relações, sendo<br />
marcadas por extremo piâm e evitação, indicam distância social e um maior<br />
investimento para ‘atração’.<br />
Assim, as relações de substância e as cerimoniais são dimensões de<br />
contraste definidoras da classe “parentes verdadeiros”, criando uma<br />
identificação pelo assemelhamento corporal. Os vínculos de substância são<br />
substituídos por relações construídas ou cerimoniais, baseadas menos no<br />
sangue (substância) do que na onomástica, na filiação “adotiva” (relação<br />
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