SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS
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esses conjuntos de referências contribuíram para aproximar as reflexões<br />
sobre a literatura moderna e a filosofia, o que representou, para Foucault, a<br />
possibilidade de se distanciar de uma filosofia do sujeito e da representação<br />
presentes, ainda que não de modo evidente, na fenomenologia, no<br />
existencialismo e no marxismo, dos quais Foucault pretendia se distanciar a<br />
partir dos anos 1960. Essas referências e esses diálogos abriram o caminho<br />
para que Foucault, por um lado, recolocasse o papel da linguagem da<br />
ficção em outro espaço que não aquele do autor e da obra e, por outro<br />
lado, explorasse as consequências desse diálogo, para pensar<br />
diferentemente os problemas filosóficos. Em entrevista no Japão, em 1970,<br />
Foucault (1994a, p. 107) destaca a importância da contribuição da literatura<br />
para pensar os problemas filosóficos:<br />
[...] prefiro me apoiar sobre as análises de obras literárias mais do que sobre<br />
obras filosóficas. Por exemplo, as escolhas realizadas por Sade são bem<br />
mais importantes para nós do que elas eram para o século XIX. E é por<br />
estarmos ainda sujeitos a tais escolhas que somos levados a escolhas<br />
absolutamente decisivas. Eis porque me interesso pela literatura, na medida<br />
em que ela é o lugar onde nossa cultura realizou algumas escolhas originais.<br />
Em outra entrevista, publicada em 1966, ano da morte de Breton,<br />
Foucault, em tom de homenagem, destacou o que, para ele, representou a<br />
figura de Breton para o pensamento contemporâneo. Breton estaria mais<br />
ao lado da figura daqueles que escavam, que esvaziam o mundo, mais<br />
próximo de Nietzsche e de Klee, do que dos que edificam, como seria o<br />
caso de Husserl ou de Picasso. Os surrealistas estariam mais próximos das<br />
incertezas que marcam o mundo contemporâneo da filosofia, daqueles que<br />
responderiam ao problema do vazio deixado pela morte de Deus,<br />
entendida esta como a perda de referências universais para qualquer<br />
fundamentação (FOUCAULT, 1994, p. 554). As razões de tal aproximação<br />
se devem ao aspecto de Breton ter trazido para o campo da escrita, para o<br />
campo do pensamento, as experiências limites desse vazio que são o<br />
inconsciente e o sonho, fazendo com isso surgir o acontecimento que<br />
sobrepôs a escrita ao saber. Segundo Foucault, diferentemente da literatura