SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS
download PDF book
download PDF book
- No tags were found...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
89<br />
internalizado no indivíduo, quanto proveniente das diversas instituições<br />
sociais. É preciso que haja uma identificação dos membros de um grupo<br />
com um modelo comum que assegure uma unidade simbólica nas<br />
instituições. Portanto, o comportamento dos indivíduos, além de ser em<br />
parte regrado pelo meio físico e social, obedece também a exigências<br />
internas que buscam satisfação e, algumas vezes, também refratárias a<br />
qualquer controle. O controle social, desse modo, se baseia na capacidade<br />
do ator de ver seus próprios atos com o olhar que um outro ator veria. E<br />
para que esse olhar não se configure numa intromissão, numa invasão, é<br />
preciso que esse olhar do outro seja solidário com o Ego para que as<br />
transações dependentes de um mesmo sistema normativo seja aceita<br />
igualmente por um e por outro.<br />
Para que haja controle social, pressupõe-se certa autonomia do<br />
indivíduo que tanto é aprendida quanto introjetada. Essa autonomia seria<br />
então “a capacidade do indivíduo de reconhecer a si mesmo em suas obras<br />
e em seus projetos, de cooperar na condução de seu próprio<br />
desenvolvimento, de descobrir neste uma exigência de sua própria<br />
realização” (BOUDON & BOURRICAUD, 1993, p.103). Porém, o controle<br />
social supõe uma lei para definir as obrigações comuns e recíprocas de<br />
todos os indivíduos e que exige uma renúncia mútua às vantagens que só<br />
podem ser conseguidas em detrimento dos outros.<br />
Estas leis, por sua vez, não estão circunscritas apenas aos códigos<br />
escritos, mas podem estar socialmente consolidadas através de um “pacto<br />
social implícito” 3 que se utiliza de outras formas de controle que não<br />
apenas a justiça e o sistema legal formal. Pode-se dizer que sentimentos de<br />
vergonha, embaraço e humilhação são também formas de controle social,<br />
presentes de forma sutil no cotidiano, e também um dos principais<br />
produtos vendidos na imprensa de sensação. Existe um desejo de justiça<br />
implícito na linguagem empregada por estes jornais que quase sempre se<br />
torna evidente na satisfação mostrada na captura, punição e também na<br />
3 Esta noção foi utilizada por MOORE JR., Barrington. Injustiça: as bases sociais da<br />
obediência e da revolta. São Paulo, Brasiliense, 1987.