SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS
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rituais e/ou filiação nas metades cerimoniais Kolti e Kolre; estas representam<br />
grupos de nomes e estão ligadas “a organização da sociedade Apinayé ao<br />
longo das relações e grupos que se dividem e se opõem em termos de<br />
princípios mais gerais”, remetendo “a ordem cósmica e simbólica Apinayé”<br />
(DaMatta, 1971, p. 27).<br />
A amizade formal compõe a esfera cerimonial em meio à<br />
nominação. Sendo o intermediário entre nominador e nominados e a<br />
exemplo dos nominados, os amigos formais também transmitem direitos<br />
de incorporação, mas num segundo par de metades cerimoniais,<br />
Ipognotxóine e Krenotxóine, marcando a posição espacial de cada grupo em<br />
relação à parte considerada como a mais pública (o centro) da aldeia.<br />
DaMatta (1971) deixa claro a existência de uma distinção de grau<br />
que vai dos parentes aos não-parentes decorrente dos códigos das relações<br />
de substância e a produção de gradações, segundo o estado das relações<br />
cerimoniais entre as pessoas. Ao partir da lógica de distinção dos sujeitos<br />
humanos entre si e entre os outros sujeitos humanos ou não-humanos, este<br />
autor antecipa uma questão que hoje é enfrentada pela etnologia indígena:<br />
o caráter construído do parentesco indígena e, por conseguinte, a<br />
concepção de que a consanguinidade se constrói a partir da transformação<br />
da afinidade.<br />
A construção do parentesco<br />
Considerar que não-parentes são transformados em parentes, e que<br />
os termos de parentesco revelam a distinção entre humanos e nãohumanos,<br />
permite atentar para a coextensividade do parentesco com a<br />
humanidade. Assim, é possível um campo de reflexão voltado para as<br />
conexões entre a “construção da pessoa” e a “construção do parentesco”,<br />
possibilitando um diálogo com as contribuições dos estudiosos do HCBP<br />
no que tange aos processos ligados à corporalidade e ao “retorno” do<br />
parentesco ao centro da análise, não como domínio totalizador. Trata-se de<br />
encarar o parentesco no interior da reflexão ameríndia sobre a<br />
consanguinidade e a afinidade, pondo em perspectiva “o quê é um