SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS
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Ainda sobre a relação entre pais e filhos, podemos observar que a<br />
infância construída possui o pai e a mãe como os responsáveis pela<br />
subsistência e pelos cuidados com os filhos. A família quadrinizada (como<br />
as reais) constitui-se como a primeira agência de socialização da criança.<br />
Quanto ao relacionamento entre Cebolinha e sua irmã, verificamos<br />
que, em muitas histórias, esse menino desempenha um papel paternal e de<br />
cuidador para com sua irmã mais nova: veja! ela tá limpinha!Tomei conta dela<br />
dileitinho! Agola, a senhora não vai precisar dar outlo banho nela. Ao assumir esses<br />
papéis, Cebolinha adquire “o status de irmão mais velho” (OLIVEIRA,<br />
2006, p.67). Conforme podemos visualizar no seguinte enunciado de<br />
Cebolinha: Pois eu prefilo ser maiolzinho! Pelo menos sou mais lesponsável!<br />
Nas situações acima retratadas, identificamos marcas do<br />
interdiscurso: na esfera da memória, em que circula o já-dito que o irmão<br />
mais velho, na ausência dos pais, assume o cuidado do irmão mais novo.<br />
Encontramos também, um deslocamento na prática discursiva, já que<br />
Cebolinha é menino, e o papel de cuidador, historicamente, é destinado às<br />
mulheres.<br />
De acordo com as condições socioeconômicas da família de<br />
Cebolinha, verificamos que seus pais poderiam pagar uma babá para cuidar<br />
de Maria Cebolinha quando a mãe precisasse se ausentar (ir ao<br />
supermercado, a casa de uma amiga, cabeleireiro, etc.), entretanto, não é<br />
isso que acontece. Como os pais não contratam uma profissional, a<br />
responsabilidade de cuidar da menina é de Cebolinha. Em muitas situações,<br />
Cebolinha, ao assumir a condição de cuidador da irmã mais nova, deixa de<br />
aproveitar momentos de entretenimento acompanhado dos amigos, como<br />
ir ao cinema com Cascão e não poder assistir ao filme, pois levou a<br />
irmãzinha junto, e quando as luzes do cinema se apagaram, a menina<br />
começou a chorar, fazendo-o sair da sala de exibição. Mais uma vez,<br />
observamos uma situação em que a criança assume uma tarefa que não<br />
está condizente com a sua idade e deixa de aproveitar de momentos de<br />
lazer importantes para a infância, como divertir-se na festa de aniversário<br />
do amigo ou ir ao cinema.<br />
Ainda de acordo com Oliveira (2006), no início da infância o<br />
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