SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS
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dispersão da linguagem intransitiva.<br />
Uma questão que mobilizou muito do pensamento de Foucault foi<br />
o problema da existência do que ele denomina isomorfismos presentes em<br />
campos distintos de uma determinada cultura. Esses isomorfismos não são<br />
aqueles das semelhanças advindas de noções como a de influência,<br />
mentalidade coletiva, mas se referem à maneira de utilizar a linguagem, à<br />
relação do sujeito falante com a linguagem, a esse campo da experiência<br />
que se refere ao modo de ser da linguagem, ao seu funcionamento na<br />
atualidade, e se liga a outras formas de pensamento presentes no interior<br />
de uma cultura dada.<br />
Assim, Foucault (1994, p. 543) entende que a literatura<br />
contemporânea, principalmente aquela que ele procurou pensar nos anos<br />
1960, “faz parte desse pensamento não dialético que caracteriza a<br />
filosofia” 6 e ao qual ele se via próximo. Pensamento que procura se situar a<br />
partir de uma linguagem que surge com o desaparecimento do sujeito<br />
soberano e identitário, um pensamento que ele caracterizou como a<br />
experiência do fora, a experiência limite.<br />
Para Foucault, a tarefa da filosofia é pensar a ficção no campo da<br />
crítica histórica, a ela compete criar um discurso que se situe nesse fora das<br />
forças no âmbito propriamente histórico, a ela importa construir um modo<br />
ficcional em relação à experiência histórica, analisá-la não sob a ótica da<br />
fábula, mas por meio da ficção, da análise da dispersão da linguagem em<br />
sua rede de relações, mas, como já foi dito, essa análise é também e ao<br />
mesmo tempo uma experiência limite com efeitos dessubjetivantes.<br />
6 Foucault vê este acontecimento que lhe é contemporâneo aparecer também na pintura,<br />
identificando esse movimento na obra de Klee, na medida em que ela “faz aparecer na<br />
forma visível todos os gestos, atos, grafismos, traços, lineamentos, superfícies que podem<br />
constituir a pintura, faz do próprio ato de pintar o saber desdobrado e cintilante da própria<br />
pintura” (FOUCAULT, 1994, p. 544). A pintura, assim como a literatura, se situaria na<br />
distância em relação a si própria, que constitui o que ele designou como o espaço do duplo<br />
e da auto-implicação da linguagem. Em entrevista, Foucault destaca que Klee utiliza os<br />
signos picturais “em seu modo de ser de signo, e não em sua capacidade de fazer aparecer o<br />
sentido” (FOUCAULT, 1994, p. 614).