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SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS

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de suas ocorrências biográficas individuais, que se tornam então uma<br />

possibilidade objetiva para todos, integrando-se ao acervo comum do<br />

conhecimento (BERGER & LUCKMANN, 1985, p.97).<br />

É assim que os sentimentos se tornam constructos sociais,<br />

simbólicos, integrativos dos atores a uma dada sociabilidade ou modo de<br />

vida, e integrativos dos sujeitos para consigo próprios, mediatizados pela<br />

tradição social. Quanto menor e menos complexa uma dada rede social,<br />

maior a capacidade social integrativa dos sujeitos nas expectações e<br />

cumprimentos das ações desejáveis, social e individualmente.<br />

Essa ritualização da vida, como pressuposto lógico da existência de<br />

uma sociabilidade, seria mais marcante e menos tolerante quanto às<br />

individualizações nas sociedades relacionais (DAMATTA, 1985). Essas<br />

esferas de ritualização seriam mais compactas, com a tradição exercendo<br />

um papel fundamental na integração dos indivíduos. Os indivíduos em<br />

interação seriam informados das ações possíveis e desejáveis através dessa<br />

“ordem ritual organizada”, havendo pouca flexibilidade para atuações que<br />

não se enquadram na lógica da tradição, notadamente em algumas esferas<br />

da vida social, como se verifica com o luto.<br />

O ocultamento e a resistência em falar de coisas dolorosas e<br />

constrangedoras têm origem em um elemento fundamental nos processos<br />

nucleares do eu e nas relações sociais que é a vergonha. Segundo Ratzinger<br />

e Scheff (1998), a vergonha é um componente tão crucial que, na maioria<br />

das vezes, permanece escondido. A proibição de revelar vergonha é tão<br />

intensa que nos inibimos de observar, ou mesmo falar, sobre a vergonha<br />

nos outros e também em nós mesmos. A proibição é tão forte que<br />

perdemos a habilidade de descobrir a vergonha escondida. Esses autores<br />

afirmam que a emoção da vergonha é negada em todas as instituições de<br />

nossa sociedade, exceto em alguns movimentos como o dos Alcoólicos<br />

Anônimos e dos Vigilantes do Peso. E se pode afirmar que isso também<br />

ocorre de algum modo nas notícias da imprensa popular, não tomando o<br />

caso individual daquele que sofre, mas como um lugar socialmente<br />

legitimado e aceito para expurgar coisas interditas nas relações particulares,<br />

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