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SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS

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alemã de Goethe, Thomas Mann, Hermann Broch, para os quais a relação<br />

entre literatura e saber se voltava mais para a interioridade e para a<br />

memória, a literatura de Breton teria como marca o voltar-se para essas<br />

regiões limites da racionalidade e do mundo da vigília, e nele a escrita<br />

passaria a ser “um meio de impelir o homem em direção de seus limites, de<br />

acuá-lo até o intransponível, de colocá-lo mais perto do que está mais<br />

longe dele” (FOUCAULT, 1994, p. 555).<br />

Situando a escrita ao lado dessas experiências limite, a literatura de<br />

Breton muda seu estatuto, desmoraliza a escrita, na medida em que a<br />

linguagem não é mais o reflexo do mundo, não fala do mundo, das coisas<br />

do mundo, do homem e de sua história, mas dessas experiências que lhe<br />

são exteriores, em que a escrita diz desse fora em que o mundo está<br />

enredado. Não pode, portanto, ser julgada desde um ponto de vista de uma<br />

teoria da história ou do homem, rompendo com o humanismo da<br />

literatura. Entretanto, essa escrita antimundo não é privada de ética, pois<br />

ela remoraliza a escrita à medida que se não fala do mundo, é porque a<br />

ética vem do próprio ato de escritura e não do que se tem a dizer sobre o<br />

mundo. Uma escrita que, situando-se nos limites do mundo, assume seu<br />

poder de ação, sua soberania e liberdade, seu sentido ético e político<br />

imanente de mudar a vida, seu papel crítico e transformador de afrontar o<br />

mundo, a história e o homem a partir de seus limites. Assim Larrosa (1996,<br />

p. 143) esclarece o papel do surrealismo na literatura:<br />

Se a literatura foi tradicionalmente um empreendimento ligado a<br />

apropriação do mundo, a conservação e a renovação da história e a<br />

realização do homem, o surrealismo a exerceu como um meio de<br />

contestação do mundo e de subversão da história, como uma das formas<br />

de levar o homem mais além de seus limites<br />

Segundo Foucault (1994, p.556) a imaginação produzida pela escrita<br />

surrealista não provém da interioridade do homem, mas está ligada à<br />

espessura luminosa das próprias palavras, à sua materialidade imagética,<br />

substituindo, assim, o privilégio do autor pelo processo de automatismo da

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