SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS
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Memória Étnica 7<br />
Jacques Le Goff (2003) estabelece uma nomenclatura para entender<br />
os diferentes tipos de memória, quais sejam a memória específica,<br />
responsável pela fixação do comportamento animal; a memória étnica, que<br />
assegura a reprodução dos comportamentos sociais; e a memória artificial,<br />
reflexo de um processo social eletrônico que se inicia com a memória dos<br />
computadores. A fronteira entre os três tipos de memória varia segundo a<br />
predominância do uso da linguagem escrita, ou seja, sua presença maior ou<br />
menor. No caso da tradição poética itapetinense, percebemos exatamente a<br />
preponderância da linguagem oral, característica da memória étnica.<br />
O historiador Le Goff atualiza o conceito de memória coletiva do<br />
sociólogo Maurice Halbwachs a partir do conceito de memória étnica, que<br />
tem as seguintes características:<br />
Nas sociedades sem escrita, a memória coletiva parece ordenar-se em torno<br />
de três grandes interesses: a idade coletiva do grupo, que se funda em<br />
certos mitos, mais precisamente nos mitos de origem; o prestígio das<br />
famílias dominantes, que se exprime pelas genealogias; e o saber técnico,<br />
que se transmite por fórmulas práticas fortemente ligadas à magia religiosa<br />
(LE GOFF, 2003, p. 427).<br />
Segundo o autor, na memória étnica, o fundamento das etnias é<br />
resultado do mito de origem e da lógica baseada na linhagem de famílias.<br />
Neste caso, a história dos inícios enfatiza, portanto, ‘o cantar mítico da<br />
tradição’, e a atração máxima do presente é a revelação do passado<br />
ancestral.<br />
Ainda em relação à memória étnica, o autor observa que há para<br />
7 Não confundir memória étnica com memória de grupos indígenas. A primeira só se<br />
entende inserida na tipologia criada por Le Goff (2003) que diferencia memória específica,<br />
memória étnica e memória artificial. Neste caso, a memória étnica é aquela em que há<br />
predominância da linguagem oral em detrimento da escrita, por isso ela funda-se no mito,<br />
na relação com os ancestrais, na linhagem de famílias, na aprendizagem das técnicas, na<br />
conservação dos segredos e na evocação inexata da palavra (que pode ser um repente).