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SUJEITO SABERES E PRÁTICAS SOCIAIS

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“atraso” nordestino através do armazenamento de um grande volume de<br />

água.<br />

Com essa represa, julgavam o governo e os técnicos do DNOCS,<br />

combater-se-ia a fome, o pior dos efeitos advindos das secas periódicas,<br />

pois por meio de um forte incentivo à irrigação, não faltariam alimento,<br />

trabalho e renda para as famílias sertanejas. Por isso, não poupavam<br />

esforços em apresentar os números que atestavam o subdesenvolvimento da<br />

região e as projeções de um futuro em que o desenvolvimento tecnológico<br />

promoveria melhorias substanciais na qualidade de vida das famílias<br />

atingidas pelo referido projeto.<br />

O município de São Rafael, à época com uma população em torno<br />

de 7 mil habitantes, distribuídos em 1.557 famílias, em sua maioria<br />

residindo na zona rural, recebeu o maior ônus dessa “chegada do<br />

desenvolvimento” anunciada pelo projeto do governo: seria totalmente<br />

coberto pelas águas da barragem. Tornar-se-ia uma versão sertaneja da<br />

legendária Atlântida, como lembrou um compositor rafaelense, Arleno<br />

Farias, no título de uma de suas composições.<br />

Todavia, os defensores do Projeto Baixo-Açu diziam que o sacrifício<br />

de São Rafael seria compensado, pois o DNOCS construiria uma nova<br />

cidade, que seria muito melhor que a antiga, em termos de infraestrutura.<br />

Para lá, iriam as famílias que já residiam na zona urbana, como também<br />

parte das que viviam no meio rural, e que optassem por ali residir.<br />

A chegada da notícia sobre a execução do referido Projeto não teve<br />

a receptividade esperada no Vale do Açu. Como essa informação não foi<br />

acompanhada de maiores esclarecimentos para a população “interessada”,<br />

terminou por gerar muitas dúvidas e medo quanto ao futuro. Tais<br />

preocupações, a princípio, uniram setores distintos da sociedade, que<br />

passaram a participar juntos das mobilizações. A imprensa estava dividida<br />

em nível estadual, porém muitos jornais locais alardeavam as “vantagens”<br />

que a população teria. Um deles, O Vale, em Açu, foi criado para fazer<br />

propaganda do Projeto, divulgando os benefícios que este, sem sombra de<br />

dúvidas, traria para aquela região assolada pela seca e pela miséria.<br />

Como não poderia ser diferente, não havia tranquilidade em São

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