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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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Aproximei-me alguns passos.

O Dreamer continuou a me fitar sem falar. Senti, de início, um leve

desconforto, que rapidamente se transformou em dor. Sob Seu olhar, minha

atenção estava invertendo seu sentido. Eu me observava dentro, pela primeira

vez. A visão não era das mais agradáveis: uma sucessão de pensamentos

contrastantes estava aflorando à consciência, junto a sentimentos de culpa e

sensações emaranhadas como meadas emocionais jamais desenredadas. Seu

olhar me escavava dentro e revolvia aquele limo emocional que eu jamais

quis ver ou enfrentar. Parou um pouco, antes que a dor superasse o limite do

suportável. Mas não facilitou. Aquilo que estava por vir foi bem mais

doloroso. Terminado o Seu exame, como se houvesse chegado a um juízo

conclusivo, definitivo, sentenciou: Você não vai conseguir!.

O silêncio que se seguiu àquele veredicto rapidamente tomou conta

do espaço daquela estufa e conquistou cada canto. Melancolia, desilusão,

desânimo, raiva emaranharam-se e fundiram-se em uma única dor, passiva.

Sentia-me esvaziado de energia. Preferia ser apenas deixado em paz e largar

tudo. Com a respiração suspensa, esperei como um condenado pelo fim

daquele julgamento. Aquela pausa persistiu cruelmente. Finalmente, com o

tom de um pesquisador que constata o fracasso do enésimo experimento, já

previsto mas nem por isso menos frustrante, anunciou: Ninguém consegue...

É o humano que não consegue!

Estava dirigindo-se a mim como se eu fosse o representante de uma

raça derrotada, uma espécie em via de extinção.

MUITAS SÃO AS LEIS QUE O FAZEM CONTINUAR A SER O QUE VOCÊ É. ATÉ A

PESQUISA QUE EU LHE CONFIEI, VOCÊ A TRANSFORMOU EM ALGUMA COISA QUE ALIMENTA

SUA VAIDADE, SEU EGOCENTRISMO.

Veio-me um forte ressentimento, aversão misturada a

autocomiseração, aquela que se sente quando se sofre uma injustiça. Depois

de meses de viagem e de pesquisas feitas nos Estados Unidos e na Europa,

depois de ter encontrado o manuscrito de Lupelius que pesquisadores,

estudiosos e arqueólogos do saber consideravam perdido para sempre, depois

de ter enfrentado com coragem o encontro com meu atormentado passado, eu

não merecia ser tratado daquele modo. Queria, de algum modo, rebater o que

Ele me dizia, mas os músculos da dignidade estavam ainda muito fracos. Por

outro lado, no meu íntimo, eu sabia que Ele tinha razão. Procurei esconder

meu estado de ânimo atrás de uma falsa docilidade. “Não consigo mudar”,

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