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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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Vim para libertá-lo

A exposição ostensiva do meu cansaço pela corrida, dramatizada por

uma exagerada necessidade de apoiar-me no batente da porta, mais a

respiração ofegante irritaram o Dreamer.

Endireite as costas e não se apoie em nada!, ordenou. Não permita

que ninguém o veja cansado ou enfraquecido.

Com um gesto imperioso, calou-me antes que eu abrisse a boca para

justificar. Não acuse a corrida... Mesmo que tivesse participado de uma

maratona completa, você não teria o direito de mostrar-se castigado ou

exausto. Diga a si mesmo: ‘Teria podido fazer muito mais!’.

Senti a chicotada e Seu poder de afastar meus pensamentos

rapidamente e, com eles, a mentira e o cansaço. Quando me viu ereto e

desencostado do batente, retomou o discurso. Você está lamentando o

passado, repetiu. A ponta de desprezo colocada com arte na voz feriu-me

cruelmente. Lamentar-se o coloca de novo sob as mesmas leis de seu passado

e anula todo o trabalho feito nestes anos... Na estrada da integridade não

existe espaço para nenhum arrependimento. Uma vez iniciada a viagem, não

volte atrás!

Em seguida, Seu tom se transformou. Você está procurando etiquetas,

disse interpretando aquela exagerada cortesia que os adultos ostentam ao se

dirigir a uma criança. Sem cercas nem limites você não sabe ao que se

agarrar. Esse estado de incerteza e apreensão acrescenta ainda mais medo ao

medo que você sempre carregou dentro de si.

O Dreamer falava comigo de uma das poltronas ao lado da lareira

acesa. Uma fivela de prata do seu sobretudo cintilou com o reflexo do fogo.

Aquele raio de luz penetrou entre as dobras do ser e me chacoalhou, abrindo

uma nova compreensão. Como todos os homens comuns, também eu amava a

dor mais do que a vida. O Dreamer me explicaria que mais do que o susto de

entrar naquilo que não se conhece, o verdadeiro medo do ser humano é o de

perder o que já lhe é familiar: a dor, o sofrimento. É essa a fobia que cria uma

insuperável barreira à manifestação da vontade, àquilo que possuímos de

mais verdadeiro, de mais real, e nos faz pertencer ao mar escuro da massa.

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