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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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“Vocês são deuses que esqueceram... vocês são deuses em estado de amnésia.

Também ordens seculares esquecem”. Os olhos do velho umedeceram-se ao

pensar naquele espírito guerreiro que havia inspirado sua escolha monástica.

“O esquecimento enfraquece o guerreiro que existe em cada ser... Antes, nós,

dominicanos, éramos vegetarianos, comíamos uma vez por dia, cultivávamos

o corpo e o espírito como uma única entidade... Era-nos muito clara a

mensagem de Cristo e Seu Objetivo: a vitória da vida sobre a morte.”

SOMENTE UM TRABALHO INCESSANTE SOBRE SI MESMO PODE PERMITIR AO SER

HUMANO SUPERAR A MORTE.

Havia em sua voz a nostalgia da antiga disciplina, a lembrança do

esplendor sepulto da Escola. Eu estava admirado, feliz. Não acreditava que o

cristianismo ainda guardasse em seu seio homens como padre S., soldados

dedicados à mais santa das guerras: fazer a morte morrer.

“Escolas e igrejas, universidades, ordens religiosas e instituições

governamentais

há tempos deixaram de preparar seres responsáveis. Hoje

produzem somente corpos e mentes poluídos”, afirmou padre S.

Terminou de preencher com uma densa caligrafia a folha que tinha

diante de si. Dobrou-a algumas vezes e entregou-a a mim sem dizer mais

nada. Aquele gesto pareceu-me, simbolicamente, a passagem do testemunho

de um estafeta que, através dos séculos, nunca parou. Ele me confiava um

trecho da corrida milenar da humanidade em busca de uma via de fuga de

suas prisões.

Ao deixá-lo já à saída do seu minúsculo escritório, sorriu para mim

piscando os olhos e contagiando-me com aquela cumplicidade alegre e

inviolável que eu havia encontrado somente entre os pequenos e valentes

garotos radiantes do meu bairro. Pedi-lhe que me indicasse o mandamento de

Lupelius que mais representasse a síntese de seus estudos, a fórmula secreta

para vencer a morte física.

Proibido matar-se dentro!, citou padre S. sem hesitação. “Aquilo que

nos faz morrer fisicamente são as inúmeras mortes psicológicas que todos os

dias nos assediam... Acreditar que a morte seja invencível mata-nos. A fé na

sua inevitabilidade é o verdadeiro assassino.”

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