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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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seu mundo interior, do seu ser. Sobre essa convicção fundaram uma ciência e

uma arte que assumiu entre eles o máximo valor. Para a Idade Pré-homérica,

sábio não é o rico em experiência ou quem excele em conhecimento, mas

quem manifesta o desconhecido, quem conhece o futuro. Jogar luz na

escuridão e precisar o incerto era, para os gregos, além da verdadeira

sabedoria, uma arte. Outros povos exaltaram a adivinhação, mas nenhum

outro povo a elevou à condição de elemento central de vida. Em todo o

território helênico floresceram os santuários dedicados ao culto a Apolo, a

quem, mais que a Dionísio, atribui-se o domínio da sabedoria, entendida

como o conhecimento do destino dos homens e a manifestação e

comunicação desse conhecimento. Em Delfos, essa vocação, somada à arte

de conhecer o futuro, encontrou a sua máxima expressão. Por isso o deus de

Delfos é a imagem unificadora daquela civilização e um símbolo da própria

Grécia.

O peregrino que frequentemente atravessava grandes distâncias e

enfrentava

graves perigos para consultar o deus, o oráculo, sobre seu futuro, lia

gravado sobre o tímpano do templo a máxima délfica: “Conhece-te a ti

mesmo”. Era como dizer: Você quer saber seu futuro? Conheça-se! Nesse

paradoxo aparentemente zombeteiro os gregos depositaram a solução do mais

antigo enigma do ser humano, o segredo dos segredos, a resposta à milenar

questão sobre a existência do livre-arbítrio. Essa questão colocou todas as

filosofias do mundo em posição inquietante entre o presságio fatalista de um

futuro predeterminado e, portanto, inevitável, e a crença no homo faber,

artífice do seu próprio destino. Esculpindo a máxima délfica exatamente

sobre o templo dedicado à mais sagrada das artes, à maior dentre as ciências

– a adivinhação –, os gregos revelaram a relação secreta entre mundo interno

e mundo externo, entre estados e eventos. E essa descoberta eles confiaram –

como uma mensagem depositada no interior de uma garrafa – ao oceano do

tempo fazê-la chegar até nós. Aquele que conhece a si mesmo, o próprio ser,

continente dos próprios pensamentos, ideias, atitudes, conhece também o

próprio futuro, porque tudo o que pensamos é conectado ao mundo; nossa

psicologia é o nosso destino. Pensar é Destino. Apolo é o símbolo do mundo,

espelho da interioridade do ser humano. O mundo nos reflete.

A tradição clássica que transmite o mito de Homero como o profeta

cego é ainda uma mensagem dos sábios daquele tempo, que se concluiu com

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