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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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Alô, quem sou?

O dia começou a mil por hora. Do terraço da casa de Samia já havia

respondido a diversos telefonemas. O Dreamer estava ao meu lado e me

observava em silêncio, enquanto, ocupado pelos fatos e pela euforia das

conversações, de acordo com os casos, eu dava ordens, levantava a voz,

enfurecia-me e, um par de vezes, saía do sério.

De vez em quando me virava em Sua direção tentando trocar com Ele

um olhar de cumplicidade, ou buscando receber um sinal de solidariedade

pela massa de trabalho que devia enfrentar desde bem cedo, além da ingrata

tarefa de ter de digerir um time de desajeitados, a quem precisava repetir cada

coisa cem vezes. Mas como era possível serem tão obtusos? Confundir até as

ordens mais simples, mais claras?

Ao telefone não responda: ‘Alô, quem é?’, mas sim: ‘Alô, quem

sou?’, disse o Dreamer, para minha surpresa, enquanto, ainda ao telefone,

finalizava uma longa conversa. Pensei não ter entendido bem. Havia pouco

mais que sussurrado, como fazia quando queria comunicar algo

particularmente importante, coisa que exigia que eu abandonasse qualquer

afazer e me concentrasse Nele. Entrei em estado de vigilância. Um olhar

bastou para me informar que o Dreamer já tinha se transformado em um

predador impiedoso. Um longo arrepio percorreu minhas costas, enquanto

sentia a adrenalina entrar no circuito em doses maciças. Com toda a calma

que pude reunir, pedi-Lhe que repetisse o que havia acabado de dizer, mas

minha voz estava já comprometida por uma crescente apreensão.

Os outros são vocêêê!, gritou com Sua voz mais terrível.

Nos mundos internos, no inferno do ser em que me precipitei em

meio a acusações e reclamações, o Dreamer não era mais um cortês hóspede

sentado à mesa de minha casa, mas sim um aterrador capitão que gritava

ordens em meio a uma tempestade enquanto a nave estava à beira de um

abismo de água. Estremeci, pulei de susto, e o telefone quase caiu sobre a

mesa enquanto saltava de uma mão para a outra como um ser maliciosamente

vivo e fugidio. A cena devia ser tão cômica que até o Dreamer não pôde

deixar de rir. Atrás da Sua máscara mais severa, da Sua ira aparentemente

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