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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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Retorno ao passado

Minha existência estava em perigo.

O dinheiro obtido da cessão da cota de participação na empresa do

Kuwait estava rapidamente exaurindo-se e vi, de novo, a necessidade de

procurar trabalho. Como em uma fábula do Oriente Médio, perdido o objeto

mágico, aquele mundo que o Dreamer me havia feito conhecer estava

desaparecendo, escapando-me pelos dedos como areia.

Retornava ao seio do invisível, como um nascimento de trás para

frente. As recepções com as luminosas mesas com prataria, o elegante perfil

das Water Towers, o espetáculo do deserto que mergulha no cobalto do mar,

a casa de Samia, as viagens pelo mundo, os desafios empresariais, os homens

e as mulheres que eu havia escolhido, tudo foi sugado por um aspirador

cósmico. Nunca mais os revi, como se pertencessem a um universo paralelo,

sem passagem ou comunicação com o meu. Aquela abertura não maior que o

buraco de uma agulha que eu atravessava milagrosamente com o Dreamer

tinha se fechado para sempre. O Projeto tinha me abandonado. Como Esaú,

eu havia trocado a primogenitura de um reino por um mísero prato de

lentilhas.

Foi naquelas condições que, antes que vencessem os dois anos,

agarrando-me àquela cláusula que me assegurava poder ser readmitido, fiz os

contatos para voltar a trabalhar na ACO Corporation. Por ocasião das

entrevistas que se seguiram, visitei vários conhecidos e velhos amigos em

seus escritórios. Estava para ser sugado uma vez mais por um vórtice

infernal.

Na ACO tudo estava como antes da minha partida para o Kuwait.

Fantasmas empresariais ainda pairavam exatamente ali onde os havia

deixado, atrás daquelas minúsculas mesas de trabalho, nos corredores ou em

volta de uma máquina de café, com os discursos, os pensamentos e as

atitudes de sempre. Ao me ver passar, trocavam sinais ou olhares de

cumplicidade entre eles. Ao me encontrar, desenhavam sorrisos amarelos nos

lábios, ou então me espiavam de seus próprios e intransponíveis recintos,

através das barras de jaulas invisíveis, evidentemente satisfeitos por rever um

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