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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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Na barriga da baleia

Enquanto eu fazia essas reflexões, simulando estar absorvido pelo

estudo dos documentos que entupiam minha mesa, sentia no organismo que

me hospedava, a ACO, um esforço de assimilação que incessantemente me

incitava a participar, que tentava arrebatar aquela centelha de vida que ainda

me permitia ver. Era como se uma lei férrea, não conhecida, porém

implacável, uma espécie de força da gravidade, uma entropia psicológica, não

pudesse permitir por muito mais tempo a anormalidade de uma posição de

testemunha, de observador. A atenção, aquele estado de vigilância que me

esforçava para manter, tornava-me alheio, o habitante de um universo

governado por outras leis. Os anticorpos teriam logo entrado em ação: teriam

me encontrado e assimilado, ou expulso, como se faz com uma excreção ou

um corpo estranho. Bastava uma pequena desatenção, uma expressão de

desagrado ou uma queixa em voz baixa, um movimento de raiva, inveja,

ciúmes ou antagonismo para estabelecer a ligação com aquele mundo de

tristeza no qual eu me colocava na condição de observador.

Certamente uma inteligência instintiva supervisionava tudo isso. Tive

a clara sensação de estar no interior de um imenso organismo vivo, como

Jonas na barriga da baleia, ou em uma prisão muito especial, tão avançada

que se podia ler os pensamentos dos reclusos e, em tempo real, identificar

quem estava alimentando pensamentos de evasão.

Um dia observei no saguão lotado a hora da transumância de seres

famintos e salivantes que se deslocavam dos escritórios para o almoço. Tive a

ameaçadora visão de uma organização hipnótica, de um formigueiro humano

cheio de seres tiranicamente atarefados, exatamente como insetos arcaicos e

cegos tão parecidos conosco.

Foi então que, estupefato, fiz a descoberta: aquele ser vivente era ela,

a ACO, aquele organismo superestruturado que nos continha. Nós todos,

dirigentes, empregados e operários, éramos apenas órgãos, glândulas,

corpúsculos orgânicos que fluíam em suas artérias sem vontade própria ou

um destino individual. Horrorizei-me vendo-os grudados àquele mundo como

a um papel mata-moscas, guiados pelo misterioso influxo das emoções

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