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A-Escola-dos-Deuses-Formacao-Elio-DAnna

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Eu não treinava mais. Negligenciava o corpo. O cansaço, as rugas e

os outros sinais de envelhecimento e decadência física eu os justificava pelo

volume de trabalho e o pouco repouso. Na realidade, saído do sonho, eu

estava retornando pela estrada que havia feito com o Dreamer.

Até a confiança dos parceiros, a lealdade, e muitas vezes a admiração

dos colaboradores, que acreditava me fossem dedicadas pela minha

capacidade pessoal, não eram mais que um reflexo da minha conexão com o

Dreamer. Aqueles relacionamentos perderam o brilho e, em alguns casos,

desapareceram completamente. Eu acusava os outros pela mudança.

Pareciam-me ingratos, mesquinhos, aproveitadores. Enquanto isso, os

problemas e os antagonismos apresentavam-se sempre mais ameaçadores, e

os insucessos sempre mais frequentes. Mas assim mesmo, em muitos

momentos, pelo menos no início, aquele deixar-me escorregar para trás foi

suave, agradável inclusive. Menos encontros e contatos com o Dreamer, até

quase desaparecerem da minha vida, significaram inicialmente maior leveza,

despreocupação. Meu vestuário tornou-se um pouco menos austero, meus

hábitos menos sóbrios. Aceitei com mais frequência os convites a recepções

em embaixadas, festas em clubes e mansões... tornei-me um habitué de

restaurantes e de pontos de encontro os mais frequentados da cidade. O

Dreamer havia sempre sugerido o understatement, ou seja, não ser muito

acessível, participar somente de poucos eventos oficiais escolhidos

judiciosamente e em ocasiões estrategicamente preparadas. Às vésperas de

encontros importantes, a disciplina indicada pelo Dreamer requeria que eu

intensificasse o trabalho sobre mim mesmo, com um aumento de atenção à

comida, aos exercícios físicos, às leituras. O reforço do estado de alerta, de

vigilância era para não deixar aberta nem a menor brecha ao mundo, a fim de

não permitir prejuízos àquela riqueza, a substância preciosa que eu havia

acumulado em meses e meses de trabalho.

Ao liberar-me de grande parte de tudo isso, senti o alívio de um

espartano

que recebe com alegria a notícia da guerra, mesmo interrompendo sua

cansativa rotina de paz feita de exercícios em excesso e esforços extremos.

Naquele momento, no céu do Kuwait adensavam-se, como nuvens

carregadas de chuva, as ameaças de guerra. Os incidentes relativos à fronteira

com o Iraque já eram diários e o mundo político e dos negócios

internacionais mostrava sinais de nervosismo e de incerteza sobre o futuro do

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